sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

"Manifesto Campeiro"


Até o presente momento, como todos podem perceber, não havia me manifestado acerca do projeto de lei que tramita no Congresso Nacional, visando o fim dos rodeios com o objetivo de proteção dos animais. Entretanto, desde que a discussão acerca do tema tomou corpo, no final do ano passado, venho acompanhando às manifestações, favoráveis e contrárias, ao referido projeto de lei, de autoria do deputado paulista Ricardo Tripolli. Segundo o deputado, onde tem os maus tratos de animais, nós devemos abolir esse processo e retirá-los. Era uma cultura brasileira a escravidão e não é mais hoje. A motivação da apresentação do projeto se deu em razão, provavelmente, do fato de uma animal ter morrido durante a Festa do Peão Boiadeiro, em Barretos/SP, depois de ter a coluna vertebral quebrada durante uma prova.

Objetivamente, ainda que não seja frequentador nem participante assíduo dos nossos rodeios, me posiciono do lado dos tradicionalistas do nosso Rio Grande, haja vista que, a meu ver, os nossos rodeios – de longe – se configuram crime contra os animais (ainda que tal prática ainda não esteja tipificada).

Daí, surgiu o evento denominado “Manifesto Campeiro”, o qual levou, ontem (21/02) a Vacaria (cidade onde se realiza do maior rodeio do Rio Grande), mais de duas mil pessoas que, ao som de diversos músicos fandangueiros e nativistas, entre eles Cesar Oliveira e Rogério Melo, Cristiano Quevedo, Joca Martins, João Luiz Correa e grupo Campeirismo e outros, se posicionaram na defesa dos rodeios. Também se manifestaram o presidente do MTG, o patrão do CTG Porteira do Rio Grande, de Vacaria e um representante do Ministério Público. O fato ainda gerou uma composição “Deputado em devaneio”, letra de Arabi Rodrigues e música de João Luiz Rodrigues, diz o início:

“Meu irmão encilha o pingo, dá rédea e alça no freio; Um paulista meio gringo, Deputado em devaneio”

Me parece que o nobre deputado, a se ver, não se dignou em estudar bem afundo a matéria de seu projeto de lei antes de apresenta-lo. O rodeio, no Rio Grande, faz parte duma cultura que atravessa gerações campeiras e que construiu e constrói a história desse Estado. Generalizar, nos tratando como eventuais criminosos em razão das provas de laço – como se atentássemos contra a vida dos animais é – no mínimo, acintoso. Como bem referiu o festejado Gaúcho da Fronteira, em programa de televisão dias atrás, o gaúcho se criou tendo o animal como parceiro, criando o gado e fazendo dele uma forma de sustento, lazer e união. Logo, se o problema é o resultado (como se morressem sempre animais maltratados em rodeios), não poderíamos sequer mais comer carne, haja vista que estaríamos claramente contribuindo com o maltrato dos animais, consumindo sua carne após o abate.

Terminar com o nosso rodeio é demasiado. Nos transformar em monstros é demasiado. Todavia, cabe a nós gaúchos comprovar esta demasia e mostrar que o rodeio é sinônimo de cultura e festa , não de maltratos aos animais (então, que acabem com a baixaria da “Cura do Terneiro” e outras fiasqueiras que, embora raras, maculam a festa). Também, que se volte ao passado, do telurismo e da emoção do rodeio, ao invés deste comércio do laço de hoje em dia. Denota-se que aqui, se enxerga o próprio umbigo. Se queremos rodeio, que façamos por merecer.

Volto, provavelmente, na próxima terça-feira.
Abraço e bom final de semana a todos.

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