segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Liberdade

Eis que estamos as voltas de mais um 20 de setembro. A semana farroupilha aí está de vento em popa e a cada passar de ano renovam-se as esperanças dos tradicionalista quanto ao engajamento do nosso povo as coisas do nosso estado. Mas afinal, precisamos de um dia específico, ou de uma semana inteira para tentar convencer alguém a vestir a nossa bombacha ou a colocar nosso lenço no pescoço? Nossa origem de berço por si só não é capaz de fazer brotar o sentimento gaúcho em todos que aqui nascem? Por certo que a identidade com o tradicionalismo e as coisas do Rio Grande deveria vir de berço. A bandeira do Rio Grande deveria servir de cobertor ou poncho de qualquer um que sentisse frio. A realidade, tão mais dura, no entanto, vem nos mostrando que as portas do mundo globalizado tem escancarado as fronteiras não só do pensamento, do sentimento mas também da nossa história. A cada dia que passa, a nossa origem se torna mais uma página de um livro qualquer e e vai abandonado os resquícios de nossa realidade. Há sem dúvida nenhuma uma total inversão de valores. Não valorizamos mais o que é nosso, mas sim o que é dos outros. Parece tão mais fácil renegar um passado heróico e brado e ganhar um futuro de mentira galgado na conquista do outros. O que vai ocorrer daqui para frente eu não sei. Sei que não cabe a mim rotular a decisão de ninguém. O que me resta e continuar peleando em prol desta cultura sul-riograndense se deixar jamais, repito, jamais, de encher a boca pra falar que eu sou do Rio Grande. Eu tenho orgulho de ter nascido aqui nestes pagos. Eu tenho orgulho de vestir uma bombacha e dizer que sou gaúcho. Eu tenho orgulho, enfim, desta minha origem farrapa e desta história forjada a bandeira de luta.
O acampamento farroupilha da capital e muitos outros pelo interior já estão montados. Gaúcho e gaúchas de todas as querências estão arranchados sobre os pelegos no desfrute das coisas da nossa terra. O mate está sempre quente e aquela costela gorda está sempre pingando sobre um braseiro. Ao fundo, uma cordeona botoneira e um velho pinho num costado entoam a nossa glória, o nosso respeito e a nossa tradição em forma de canto. Nos CTG's, viram-se as noites em vigília sob a luz da chama crioula e ao dançar de vaneiras, chamamés, xotes e milongas, afinal, nesta época do ano baile é coisa que não falta. Para mim que vive de fandango eu só tenho a agradecer. Noites e mais noites na companhia da gauchada é sempre uma alegria a mais. É bem possível que no dia 21 de setembro todos voltem para sua casa e seus relógios biológicos farroupilhas fiquem adormecidos por mais um ano. A estes gaúchos de temporada, resta-nos esperar que não esqueçam a bombacha no fundo de um armário, ou então de um baú. Que realcem aos novos de agora, os valores dos nobres do passado.
O ser gaúcho como todos vocês bem sabem é muito mais profundo do que simplesmente nascer no perímetro do nosso estado. Não somos uma raça, mas sim as raças é que fazem de nós o que somos. Um dos ideais da Revolução Farroupilha é a Liberdade. Não poderia e nem pode haver um povo sob a tirania de qualquer que seja. Sob esta ótica, devo crer então que nada mais me resta a não ser tentar aceitar esta mudança de paradigma que paira sobre a nossa sociedade contemporânea. Continuo achando que temos que saber valorizar mais a bombacha e o lenço que usamos no pescoço. È preciso tomar consciência de onde viemos e para onde queremos ir. Não se pode andar pra frente sem saber o que ficou pra trás.
No fim das contas, merece o Rio Grande a nossa felicitação e cortesia, afinal, devemos a ele tudo que somos.
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Forte abraço e um bom feriado a todos.

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