sexta-feira, 27 de abril de 2012

O país da fantasia

É aqui, com certeza. Longe de mim, vir com um pensamento pejorativo. Na verdade é apenas uma conjectura que faço de como o brasileiro enxerga a vida, de certa forma. Pois bem. Aqui, da noite para o dia uma música é capaz de estourar nas “paradas do sucesso”. Ritmos variados, culturas distintas de norte a sul, enfim, os sotaques se misturam e músicos e cantores são agraciados com a “paixão” do público por sua letra e melodia, quiçá o plural disso. E o sucesso que chega de forma abrupta e repentina da mesma forma se vai, às vezes sem seque deixar vestígio. Aí, perdura aquele capaz de se manter, afortunado de capacidade de composição ou até mesmo de sorte, quando um possível sucesso lhe bate a porta, enfileirando mais uma paixonite no povo. A vida de músico, de fato, é bastante difícil. To falando dos músicos das massas, do dia a dia, do salão da igreja do povoado. O músico da mídia, do empresário influente, bem, este tem seu lugar garantido neste mundo da fantasia.

Num contraponto, vou tomar como exemplos os dois maiores grupos deste nosso Rio Grande: Os Monarcas e Os Serranos. Você não os vê com facilidade na televisão. O segundo ainda tem a experiência de ter se apresentado no programa do Faustão, o que não mudou em nada sua forma de agir e se comportar. Retomando, quero chegar no ponto da realidade nossa de cada dia. Os Monarcas e Os Serranos têm cachê hoje na casa dos R$ 20 mil, talvez um pouco mais, quem sabe um pouco menos. Ouço um burburinho aqui, outro ali, questionando o valor cobrado pelos mesmos, “incoerente à realidade dos CTG’s”, como certamente ouvi um patrão comentar. Nobres leitores e leitoras, de fato é incoerente este valor cobrado pelos grupos; por cinco horas de baile sem parada, precedendo uma longa viajem de ônibus com o mesmo caminho de volta após? Vocês acham mesmo?

Enquanto Os Monarcas e Os Serranos a esta altura do dia devem estar no alto de sua jornada estradeira, algum outro artista qualquer, com cachê bem maior, qualidade certamente inferior e um show de 1h30min (quando isso) pela frente, espera descansando num hotel até chegar a hora de rumar ao aeroporto para tomar o avião que lhe conduzirá ao seu “espetáculo”. Este é o mundo da fantasia que lhes falo, próprio do nosso Brasil varonil. Às vezes, não é preciso nem talento basta a sorte. Ou o dinheiro, quem sabe... Enquanto isso, Os Monarcas e Os Serranos seguem sua luta diária, por amor a música e o gauchismo. Com os pés no chão, a sapiência da realidade e o mais importante: a essência do Rio Grande. Daqui, poucos fizeram e farão sucesso por lá, afinal, é uma questão de princípio, de bairrismo ou como queiram rotular. No fim das contas, é melhor ser índio pobre a se vender por um punhado de moedas marcadas. E a fantasia? Muitos fantasiam até que um dia acordam. Aí? Bom, aí já é outra história.

Um fraterno abraço ao grande Valmir Sauer, o Xirú! Um baita gaiteiro e um grande amigo, que por alguns anos dividiu o palco comigo e jamais deixou de manter a consideração por mim. Bah tchê, me segurei de emoção com aquele teu abraço sincero no Rodeio de Novo Hamburgo.

Um bom final de semana a todos.

3 comentários:

Robson Mississipe de Lemos disse...

Exatamente

Unknown disse...

Eu acho justo este valor,temos grupos ganhando absurdos.

Unknown disse...

Verdade cara , fico triste em ver nosso tradicionalismo se esvair. Mas eu jamais deixarei minha raiz, vou ouvir músicas gaúcha.milonga, vaneira, rancheira e etc...até o fim da vida