segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

Há uma década (janeiro)

Há uma década no Blog do Campeiro é uma seção que deveria ter começado aqui já em 2020, mas  acabou ficando para 2021. Fez sucesso e seguirá em 2022. Assim, uma vez a cada mês, trarei uma publicação do mês que estamos só que há 10 anos atrás.


Vamos ver o que mudou no meu pensamento de lá pra cá, na vida de todos nós, além de curiosidades e lembranças.


Se bandiamo:



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Encolheram nossa comida! (06/01/2012)

Houve um tempo, que não faz tanto tempo assim, que o programa mais barato do final de semana era sair com a família para comer um ‘xis’ no “trailer”, quase sempre da esquina. Bons tempos aqueles. Lembro-me de sair com os meus pais, ainda lá em São Chico, para comer o lanche. Naquele tempo, R$ 10 (dez reais) era o suficiente para pagar a comida de todo mundo e ainda custeava parte do refrigerante. Hoje, dependendo da lancheria, não chega nem para pagar o próprio ‘xis’. Lembro ainda que naquela época podia dividir tranquilamente um lanche com minha mãe, primo, ou amigo e mesmo assim ficaríamos satisfeitos. A circunferência de um ‘xis’ pairavam sobre ás bordas de um prato raso, ao contrário dos nosso dias atuais em que mal tampa o fundo do mesmo. O artifício de ser um lanche não só barato, como também rápido, também não cola mais na nossa sociedade atual. Cansei de esperar quase meia hora por um. Enfim, coisas do advento da vida moderna que tem atingido, pasmem, também nossa comida. Não a ponto de faltar, a princípio, mas de encolher.
Novo Hamburgo, felizmente, ainda possui algumas lancherias que lembram muito bem os tempos de outrora. Uma destas, bem conhecida por sinal, próxima ao cruzamento da Bento com a Nicolau Becker, ainda funciona num “trailer”, inclusive, e o pão do “xis” ainda é digno de fazer a graça de algum esfomeado. O “encolhimento” da comida não atingiu só o pão não. Minha bolacha recheada predileta, aquela com carinha, biscoito de chocolate e recheio de morango diminuiu de tamanho (mas não de preço, óbvio). Quando era guri, um pacote tinha 200g e hoje 164g. O sabor, embora seja bem próximo o daquela época, teve sutil alteração quando a mesma passou a ser feita com farinha integral. Crianças pouco se preocupam com que farinha é feita e acho que os pais também, mas... Minha sorte é que em um dos meus severos regimes que fiz, meio que aboli o amor pela bolacha; hoje como raramente. O refrigerante era em garrafa de vidro. Tão mais saboroso que está voltando às prateleiras dos supormercados. Enfim, o mundo moderno nos trouxe facilidades que não se confundem com qualidade.
Por fim, como não falar no alimento mais consumido em todo mundo: o pão. Quando ainda morava em São Chico, quase todas as manhãs “quebrava” na esquina da Benjamin Constant, oriundo da Pinheiro Machado, e me dirigia à padaria Canani ( que há tempos não existe mais) para comprar um pão d’água (de quilo ou de quarto de quilo, se não me engano). Quando a vó dava um dinheiro a mais (por desatenção ou por querer mesmo) ainda comprava um sanduíche de nata, queijo e mortadela. Senhoras e senhores lembro-me como se fosse hoje: o sanduba custava inacreditáveis R$ 0,40 (quarenta centavos). Que coisa! O pão d’água se foi. Algum lugar ou outro ainda o vende com a intenção de incitar a nostalgia dos consumidores. O nosso pão também diminui. Hoje, faz a fama o popular ‘cacetinho’ ou ‘de sal’ como dizem os irmãos catarinas. Quem reina é o francês. Acho que vou fazer terapia. Não consigo me conformar com “sumiço” do que é bom. Querida, me acode, encolheram nossa comida!

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E a coisa só piora. Exemplo maior é o chocolate que, agora, uma barra dita grande tem miseráveis 90g; com sorte talvez 100g. Sorte a minha que larguei essa iguaria faz tempo.

Abraço e bom final de semana a todos.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

Escaldante

 Os dias tem sido escaldantes na porção mais ao sul do Brasil. Enquanto chove as buais em parte do centro do país. Enquanto agora parece que chove também às pencas nas planícies do Rio da Prata. Nossos vizinhos, Uruguai e Argentina.

O certo é que o que menos devemos tentar é aguentar ultimamente são das coisas do clima. A questão é como suportar todo este calor senegalês. 

Obviamente morando em Novo Hamburgo já vi disso pra pior, pasmem. A questão é que não lembro de tantos dias a fio da mesma forma. Ontem caminhei ao sol do meio dia pelas ruas pouco arborizadas e muito concretadas de Novo Hamburgo e foi uma experiência daquelas que eu não gostaria de repetir mais.  

Pior é que há promessa de pelo menos mais dois dias terríveis pela frente, sendo os dois últimos foram de bater recorde histórico. 

Faz-se o que para fugir disso quando não há muito para onde correr?

Pois então, não sabemos. Eu não sei ao menos.

A questão nesses dias escaldantes é buscar sobreviver.

Viver, entretanto, não está nada fácil.


Boa semana a todos.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

Novamente sem Festa da Várzea

 Mais uma vez, pelo segundo ano consecutivo, não fosse a pandemia, fatalmente estaríamos aqui falando da edição 2022 da mais tradicional festa de padroeiro que temos em São Chico, a Festa da Várzea, localidade que fica às margens da RS 474 (Rota do Sol), no entroncamento com o caminho a Bom Jesus.

Amanhã a tarde teríamos o já tradicional torneio de de futebol, com mais um show de gols do Zé Fogaça.

A noite, salvo engano, seria o Grupo Musical Cordiona que estava acertado para tocar o baile.

Como também a domingueira, depois de amanhã.

Mas não temos este ano a Festa da Várzea. Tampouco os bailes por aqui voltaram, a rigor, com garbo e galhardia.

Fazer o que...

Mas a verdade é que começar um ano sem a Festa da Várzea parece que é não começar por completo.

A vida é dessas, quase nunca acontece como a gente quer.

Mas que a manchete por aqui em 2023 seja outra!

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Faleceu Elza Soares, ontem, aos 91 anos. A Rainha Invencível, a voz mais marcante das minorias, da arte e também do povo brasileiro. Vejam essa passagem de sua vida:

'Um dia descobri que cantava. O meu filho mais velho João Carlos estava morrendo e eu já tinha perdido 2 filhos e não queria perder mais um. Eu não tinha dinheiro pra cuidar do meu filho e ouvi no rádio que o programa do Ary Barroso de calouros Nota 5, estava com o prêmio acumulado. Não sei como, mas eu sabia que ia buscar esse prêmio!
Fiz a inscrição e me avisaram que eu precisava ir bonita. Mas eu não tinha roupa nem sapatos, não tinha nada! Então, eu peguei uma roupa da minha mãe, que pesava 60kg e vesti, só que eu pesava 32kg, já viu né? Ajustei com alfinetes. Tudo bem que agora é moda ne? Hoje até a Madonna usa, mas essa moda aí fui eu que comecei viu? Alfinetes na roupa é muito meu, é coisa de Elza!
No pé coloquei uma sandália que a gente chamava de “mamãe tô na merda”, e fui!
Quando me chamaram, levantei e entrei no palco do auditório. O auditório tava lotado, todo mundo começou a rir alto debochando de mim
Seu Ary me chamou e perguntou:

_ O que você veio fazer aqui?
_ Eu vim Cantar!
_ Me diz uma coisa, de que planeta você veio?
_ Do mesmo planeta seu Seu Ary.
_ E qual é o meu planeta?
_ PLANETA FOME!
Ali, todo mundo que estava rindo viu que a coisa era séria e sentaram bem quietinhos.
Cantei a música Lama.
O Gongo não soou e eu ganhei, levei o prêmio e meu filho está vivo até hoje, graças a Deus!
De lá pra cá, sempre levo comigo um Alfinete.
Naquela época eu achava que se tivesse alimentos pros meus filhos, não teria mais fome. O tempo passou e eu continuei com fome, fome de cultura, de dignidade, de educação, de igualdade e muito mais, percebo que a fome só muda de cara, mas não tem fim.
Há sempre um vazio que a gente não consegue preencher e talvez seja essa mesma a razão da nossa existência.'
Elza Soares

Elza sempre disse que queria cantar até o fim. Enganou-se: sua voz será eterna!

Sentimentos à família, à música e a todo o povo brasileiro legitimamente representado na vida, na lida e na luta da grande e imortal Elza Soares.

Bom final de semana a todos.

terça-feira, 18 de janeiro de 2022

O cavalo Baio

 Se teve alguém que conheci que não era muito apegado às coisas materiais da vida era o Sr. Afonso Gil da Silva, meu avô. O Vovô como chamávamos e sempre será lembrado com saudosismo e saudade, afinal, era uma figura ímpar em todos os sentidos. Sobre a falta de apego, veja-se, de quando eu me conheci por gente teve sempre o mesmo carro: um Chevette Ouro Preto 1982. Suas vestes eram bombachas sem floreios, camisa sempre de manga comprida e arremangada no calor (mania que peguei já que não uso camisa de manga curta). Um chapéu pra lida, mais judiado, e outro pra andar na cidade. Mas sempre os mesmos e iguais. 

Enfim, um homem que tinha tudo o que realmente importava e que detinha valor, sem precisar se aparecer para ninguém.

Mas a coisa mudava um pouco de figura quando se tratava do cavalo dele, nomeado pelo mesmo de Baio. Era o seu xodó. Tinha uma estrebaria somente sua e nunca dormia ao relento. Era um animal bom de lida e muitíssimo bem cuidado. Eu e o Maicon, meu primo, tínhamos medo até de chegar perto dele. E o Baio parecia também em nada gostar que alguém lhe encilhasse à montaria, senão o próprio Vovô. Ambos tinham uma sintonia fina e sabiam o que era preciso fazer a cada nova campereada.

Depois do falecimento do Vovô, há quase 16 anos, poucos se aventuraram a montá-lo. Seu destino acabou sendo vagar pelos campos do Boqueirão a esperar o fim de sua jornada.

Pois bem.



Soube agora, pasmem, que o Baio ainda está vivo! Esta foto, dele já não tão dourado como era, afinal, o tempo é implacável com todos nós, inclusive com ele, foi tirada pelo Tobias, meu outro primo. Mas foi o Maicon que me mandou, lembrando de algumas boas histórias daquele tempo bom, poxa, e que tempo maravilhoso mesmo foi aquele que, infelizmente, não voltará mais.

Mas vendo sua imagem, deu pra matar um pouco da saudade do Vovô.

Quantos anos vive um cavalo? Eu achei que era por volta de 30. Mas, o Baio tem que ter bem mais que isso. Engraçado é que quando éramos pequenos tinha também a Baia, uma égua que nem dava mais montaria de tão velha que estava. Morreu com muito mais de 30 anos também.

Seria a água ou aqueles campos da Fazenda Boqueirão que tornam a vida mais longeva?

Não sei! Só sei que quem passou por lá certamente será eterno!


Saudade lá de Fora...

Boa semana a todos.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

Décimo quinto

 Pois vejamos que este BLOG DO CAMPEIRO chega ao seu 15º ano de existência, mais firme que palanque em banhado. esta, por exemplo, é a publicação de nº 1248.

Em 14 anos (começamos em 2008, inclusive) este espaço passou por algumas transformações editoriais, muitas advindas de novas realidades que surgiam. O foco principal ainda é falar da cultura e música gaúcha, além de coisas e causos do Rio Grande velho.

Mas ao longo do tempo também falamos das mazelas da vida e também não se deixou de criticar esse ou aquele, quase sempre políticos. Precisamos falar de política. Eu preciso voltar a falar de política, após mais de 3 anos.

Talvez este espaço volte a abordar do assunto vez ou outra. Talvez.

A volta gradual dos fandangos (agora com o freio de mão mais puxado em razão do novo aumento dos casos de covid) também movimentará ainda mais este espaço gaudério. Noticias e novidades do meio musical pampeano (inclusive das bandinhas) será abordado por aqui sempre que houver assunto.

Coisas do cotidiano e que sejam relevantes ao povo deste espaço, igualmente.

Enquanto vemos dessa (a política) e de outras possibilidades, siga nos acompanhando por aqui.


Puxe um banco e sente que a casa é sua! O mate? Este está sempre quente!


Boa semana a todos.

terça-feira, 11 de janeiro de 2022

Uma cerveja num boteco qualquer

 Já estão abertas as porteiras de 2022 e eu poderia vir aqui traçar planos e metas para o ano vindouro. Mas, não vou. O mundo já não nos mais permite pensar com tanto afinco no futuro e, particularmente, também já cansei de fazer projeções para minha vida. Não adianta ficar sonhando muito, quando a realidade que nos contorna não permite ir muito além do amanhã.

Chego a conclusão, e isso não foi hoje, apenas estou rememorando, que quanto mais simples é a vida, melhor. Vejamos o simples ato de tomar um copo de cerveja num boteco qualquer. Até isso hoje precisa duma cerimônia quando, não vai muito, bastava passar na frente, estar com sede e pedir uma estupidamente gelada. ficar ali bebendo com o livre pensar povoando, indo longe mesmo sem sequer se mexer na cadeira ou no banco junto ao balcão. Aliás, sequer se fazem mais botecos com os bancos juntos ao balcão. É velho demais. Sequer temos botecos raiz, é de se dizer.

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Eu sou velho e prefiro me sentir assim. Aproveito das modernidades, admito, mas gosto mesmo de carro antigo, de costumes e gostos antigos. Eu sou antigo. Ou saudosista. Chamem como quiser. Mas sou e ponto final.

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Mas, voltamos ao que interessa: a cerveja num boteco qualquer. Lembrei agora do velho Tertúlia em São Chico, 18 anos recém chegados, e eu já podia sentar numa mesa do mais antigo e tradicional bar de São Chico (ainda aberto) e pedir uma cerveja. Apenas pedi uma ao carismático Sarrafinho, famoso garçom, que na maior "cara de pau" me trouxe uma marca ruim - hahahaha. Figuraça!. Tanto faz, bebi igual, mas também aprendi: não basta pedir uma cerveja num boteco qualquer. Tem que ser "A" cerveja.

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Sou um apreciador de cervejas, porém algumas marcas tradicionais nossas eu não tomo mais. E já adianto que não fui eu que fiquei chato, foram as cervejas que pioraram. E muito! 

Lástima!

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Numa dessas de beber uma cerveja num boteco qualquer, lembro-me de ter hospedado num hotel no centro do Rio de Janeiro. Pouco falam do centro do Rio sem ser de forma pejorativa, mas é só mais um como outro qualquer. Era um bar de esquina, tradicional e histórico. Tinham mesas, é bem verdade, mas fui direto para o balcão. Na época os cariocas tinham uma marca preferida que felizmente não era a minha, o que me dava maior chance da minha predileta estar mais gelada, afinal, saía menos. De fato estava estupidamente gelada. Aliás, cerveja bem gelada não é uma iguaria fluminense. Definitivamente não é. Mas aquela estava e com isso não foi uma cerveja que tomei. Foram muitas.

Certa altura da noite que já havia caído, experimentei o galeto da casa, outra guloseima que os cariocas apreciam. Espetacular! Ou eu estava já bêbado para sentir o gosto real. Mas prefiro pensar que era espetacular. 

Não sei como cheguei de volta ao hotel, mas era próximo.

Só sei que, e podem me chamar de saudosista, talvez neste momento eu até nem queria estar tomando uma cerveja num boteco qualquer, mas naquele boteco do centro do Rio de Janeiro.

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Mas pra isso, preciso voltar a beber antes.

E matar a saudade duma cerveja num boteco qualquer.


Bom 2022 pra todos.

Abraço e boa semana.