segunda-feira, 25 de abril de 2022

Há uma década (abril)

 Há uma década no Blog do Campeiro é uma seção que deveria ter começado aqui já em 2020, mas acabou ficando para 2021. Fez sucesso e seguirá em 2022. Assim, uma vez a cada mês, trarei uma publicação do mês que estamos só que há 10 anos atrás.


Vamos ver o que mudou no meu pensamento de lá pra cá, na vida de todos nós, além de curiosidades e lembranças.


Se bandiamo:

***

O país da fantasia (27/04/2012)

É aqui, com certeza. Longe de mim, vir com um pensamento pejorativo. Na verdade é apenas uma conjectura que faço de como o brasileiro enxerga a vida, de certa forma. Pois bem. Aqui, da noite para o dia uma música é capaz de estourar nas “paradas do sucesso”. Ritmos variados, culturas distintas de norte a sul, enfim, os sotaques se misturam e músicos e cantores são agraciados com a “paixão” do público por sua letra e melodia, quiçá o plural disso. E o sucesso que chega de forma abrupta e repentina da mesma forma se vai, às vezes sem sequer deixar vestígio. Aí, perdura aquele capaz de se manter, afortunado de capacidade de composição ou até mesmo de sorte, quando um possível sucesso lhe bate a porta, enfileirando mais uma paixonite no povo. A vida de músico, de fato, é bastante difícil. To falando dos músicos das massas, do dia a dia, do salão da igreja do povoado. O músico da mídia, do empresário influente, bem, este tem seu lugar garantido neste mundo da fantasia.

Num contraponto, vou tomar como exemplos os dois maiores grupos deste nosso Rio Grande: Os Monarcas e Os Serranos. Você não os vê com facilidade na televisão. O segundo ainda tem a experiência de ter se apresentado no programa do Faustão, o que não mudou em nada sua forma de agir e se comportar. Retomando, quero chegar no ponto da realidade nossa de cada dia. Os Monarcas e Os Serranos têm cachê hoje na casa dos R$ 20 mil, talvez um pouco mais, quem sabe um pouco menos. Ouço um burburinho aqui, outro ali, questionando o valor cobrado pelos mesmos, “incoerente à realidade dos CTG’s”, como certamente já ouvi mais de um patrão comentar. 

Nobres leitores e leitoras, de fato é incoerente este valor cobrado pelos grupos; por cinco horas de baile sem parada, precedendo uma longa viajem de ônibus com o mesmo caminho de volta após? Vocês acham mesmo?

Enquanto Os Monarcas e Os Serranos a esta altura do dia devem estar no alto de sua jornada estradeira, algum outro artista qualquer, com cachê bem maior, qualidade certamente inferior e um show de 1h30min (quando isso) pela frente, espera descansando num hotel até chegar a hora de rumar ao aeroporto para tomar o avião que lhe conduzirá ao seu “espetáculo”. Este é o mundo da fantasia que lhes falo, próprio do nosso Brasil varonil. Às vezes, não é preciso nem talento basta a sorte. Ou o dinheiro, quem sabe... Enquanto isso, Os Monarcas e Os Serranos seguem sua luta diária, por amor a música e o gauchismo. Com os pés no chão, a sapiência da realidade e o mais importante: a essência do Rio Grande. Daqui, poucos fizeram e farão sucesso por lá, afinal, é uma questão de princípio, de bairrismo ou como queiram rotular. No fim das contas, é melhor ser índio pobre a se vender por um punhado de moedas marcadas. 

E a fantasia? Muitos fantasiam até que um dia acordam. 

Aí? Bom, aí já é outra história.


Este texto é top 5 nos mais lidos na história do Blog do Campeiro, com mais de 3 mil visualizações nominais.

***

Uma década se passou e pouco ou nada mudou. Aliás, mudou pra pior, já que a pandemia ainda tirou todos do palco. Com o, enfim, retorno, ainda se criticou publicamente algumas bandas pelo preço dos seus cachês.
Quem botou comida na mesa do músico neste mais de ano em casa?

Boa semana a todos.

Nenhum comentário: