sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Voltando pra casa

Há algum tempo venho dizendo aqui neste blog que não tenho falado sobre as coisas do nosso tradicionalismo e da nossa música gaúcha autêntica porque não tem surgido assunto pertinente sobre o assunto. Eis, no entanto, que agora está surgindo uma questão polêmica capaz de dividir, sob certo aspecto, a opinião de todos os tradicionalistas e apreciadores da nossa cultura, inclusive, vocês caros amigos leitores deste espaço. Antes de começar a tratar de tal assunto, porém, cabe a mim voltar um pouco no tempo, mais precisamente ao início deste novo século, quando surgiu um movimento dentro da nossa música chamado tchê music. O tchê music logo que surgiu criou um alvoroço em virtude da forma como os seus precursores (Tchê Barbaridade, Tchê Garotos e Tchê Guri) estavam caracterizando a nossa tradição em um projeto que tinha como principal ponto, a divulgação desta nossa “música” para o resto do Brasil. Em virtude da intensa crítica sofrida por estes, o movimento perdeu força retornando de vez em 2005. Em 2006 o MTG proibiu todo ou qualquer CTG filiado ao movimento de contratar qualquer grupo ou banda vinculado a tchê music, gerando uma enorme polêmica, fechando alguns galpões tradicionais (como o CCN Nova Raça de Canoas) e taxando este órgão de bairrista pelos adeptos ao suposto gauchismo que estava surgindo, o gauchismo da moda. Até parece que a nossa tradição se criou pautada pela moda de cada época. Decisão acertada, a do MTG, à época. E a vida de todos seguiu, cada uma para um lado.
O Tchê Barbaridade (do qual fui um fã incondicional), o Tchê Guri e o Luiz Cláudio (então recém saído do Tchê Garotos) puxaram a fila da popularização do tal de maxixe principalmente na região metropolitana, abolindo de suas vestimentas a bota, o chapéu e a bombacha e aderindo ao tênis, o boné e a calça jeans apertada. O Tchê Garotos também aderiu a esta nova vestimenta, contudo, tomou o rumo de São Paulo(transferiu inclusive o escritório comercial para lá) dedicando-se a uma música conhecida hoje como vaneira universitária, no embalo do já popularizado sertanejo universitário que aí está. Ousaria dizer que o Tchê Garotos hoje é a banda que realmente teve benefícios com a troca, digo, no sentido financeiro da coisa. Os demais, mais os que surgiram, foram se limitando a nossa região metropolitana (Alvorada, Canoas, Gravataí, Sapucaia do Sul, São Leopoldo, Porto Alegre e Viamão) e litoral (Cidreira, Tramandaí e outras). E acho que ficou por isso. No início, até que foi uma explosão em todo o estado. Acredito que o mercado do tchê music até se expandiu, mas como a moda é uma tendência variável, não passou do início mesmo. Se expandiu fora dos CTG's é claro, já que os profissionais deste ramo musical continuam proibidos de entrar no nosso centro de tradições.
Neste último final de semana que passou, a manchete de capa do jornal Diário Gaúcho dizia o seguinte: Bah, deu crise na tche music! Ao ler a manchete acabei comprando o jornal, mesmo sabendo o que eu leria na matéria. Sim eu já sabia e por um lapso ainda não tinha trazido ao conhecimento de todos vocês. Então, vamos aos fatos: por volta do final do mês de junho deste corrente ano, surgiu um burburinho no meio dos grupos fandangueiros da região, que o cantor Luiz Cláudio e sua banda Tribo (era Tribo da Vaneira até o início do ano) estavam abandonando o tchê music e voltando a nossa música tradicional. Burburinho que logo virou informação positiva, confirmada pelo próprio cantor. Desde então, o Luiz Cláudio e a Tribo voltaram a colocar bombacha em todas as suas apresentações e a esperança do músico agora, reafirmado pela matéria do Diário Gaúcho, é voltar a ser aceito nos CTG's. Na mesma matéria, foi entrevistado o Marcelo Noms do Tchê Barbaridade, uma vez que no seu ultimo disco eles trazem uma regravação da música Trancaço, do Mauro Moraes, também já gravada pelo grande José Claúdio Machado e Os Tiranos (música que deu título ao trabalho, inclusive), no entanto, o mesmo, infelizmente, deu uma declaração dizendo que a banda estava tentando buscar o meio termo mais não usaria mais a bombacha, uma vez que agora eles têm uma mulher na banda e não daria para por vestido de prenda nela. Ta bom, então. Como se a bombacha feminina não fosse uma realidade já. Não quero aqui dizer que passei a ser a favor da bombacha feminina, apenas foi uma idéia. É por este tipo de opinião que eu fui fã do Tchê Barbaridade.
Por fim, para concluir este texto informativo especial, curvo-me a um grande historiador, folclorista, pesquisador e tradicionalista deste estado (não poderia ser diferente), Sr, João Carlos D'ávila Paixão Cortes, que indagado pelo assunto na matéria do jornal supra citado, brilhantemente resumiu o que significou ou significa a Tchê Music: “Todo modismo tem tempo limitado, é circunstancial, consumista...” Perfeito! Um movimento que surgiu com prazo de validade que parece estar vencendo. Quanto à volta destes musicos aos nossos galpões de CTG, especialmente no caso do Luiz Cláudio, na opinião deste que vos escreve, apesar de tudo o que ocorreu, deve ser saudada por todos nós. Sim, meus caros amigos, sou a favor da volta do Luiz Cláudio aos nossos CTG's. A música campeira autêntica deste nosso Rio Grande não pode ser privada do talento deste cantor e compositor( Luiz Cláudio é autor, entre outras, de duas belas músicas gravadas por Os Monarcas e Os Tiranos respectivamente: Minha Bandeira e Ela é uma flor e eu sou um campeiro – baita chamamé) e, já que dizem que errar é humano, o cantor usou-se deste “direito” e agora, ao dar-se conta de sua falha, está voltando para casa. Apesar de tudo, na casa de um gaúcho de bem sempre tem um mate amargo a espera de um filho desgarrado. É chegada a hora de somar e não dividir o tradicionalismo. É chegada a hora de nos unirmos para enfrentar a mesma peleia. E isso é o que importa.
_
Hoje é dia de fandango:
www.fandangueiro.com.br
_
Forte abraço a todos e um bom final de semana.

Nenhum comentário: