terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Carta aberta de um Colorado

Não há um dia sequer que eu não lembre daquele campeonato gaúcho de 1997, onde o Internacional se sagrou campeão. E eu não esqueço porque foi o primeiro título que eu vi o meu time ganhar e entendi o que aquilo significava, já que em 1992 - com 5 anos, ainda não sabia bem o significado daquele título, embora já fosse Colorado. Aliás, no meu caso, eu nasci Colorado e vou ser assim até o fim, pois nada vai nos separar.

Vínhamos de uma década muito ruim no quesito futebol. Os anos 1990, para o Internacional, vinham sendo bastante difíceis, ainda mais para uma criança que via seus amigos comemorando títulos, enquanto você parecia chacota. Daí veio aquela final, o time era redondinho: André, Enciso, Márcio Tigrão, Gamarra e Régis; Anderson, Fernando, Arilson e Sandoval; Fabiano e Christian. Quem não lembra no gol do Fabiano que nos deu o título? Este mesmo time abriu o campeonato brasileiro metendo 3 no Corinthians em São Paulo. Não foi campeão brasileiro mas poderia ter sido, enfim...

Os anos seguintes, porém, voltaram a realidade anterior, tendo nós, por duas vezes, sofrido até as últimas rodadas para escapar de rebaixamentos que pareciam inevitáveis, isso nos anos de 1999 e 2002.

Aí vieram as grandes conquistas, Duas Copa Libertadores, um Mundial de Clubes, Uma Copa Sul Americana, duas Recopas e vários campeonatos gaúchos. Não sejamos passíveis à ilusão. Nós torcedores Colorados passamos a usar salto alto, afinal, eramos campeões de tudo. Mas mesmo nas vitórias, alguns sinais de que as coisas não iam bem já apareciam. Fomos campeões da Libertadores em 2010 jogando um futebol ruim. O mundial, depois, foi uma desilusão antecedida pela ilusão de que poderíamos ganhar o bi campeonato com aquela forma de pensar futebol.

De 2011 para cá, ano após ano, lutamos contra uma realidade que queria se fazer presente, mas não enxergávamos. Não queríamos enxergar que essa mancha em nossa história que agora se consuma poderia, de fato, acontecer. E a dor, como agora se sente bem, é tão forte quanto a alegria. Ganhamos tudo o possível e mesmo assim, agora, estamos amargando a dura realidade de ter de enfrentar uma segunda divisão de campeonato brasileiro, depois de um ano patético, onde aqueles mesmos que ganharam tudo, conseguiram perder aquilo que a gente sempre teve orgulho de ter: dignidade!

Não, não é indigno ter de enfrentar uma série b. Indigno é lotar o Beira Rio e ver um time sem a alma Colorada em campo. É enxergar na casamata alguém que não está nem aí para com a nossa história, no mais cristalino exemplo do "tanto fez, tanto faz". É pensar que tantos que suaram a camisa por este clube, que sentaram no cimento quente do velho Gigante, que ajudaram a construir o nosso estádio, que sofreram como eu na década de 1990, quando o time era pobre, e que agora tem de se resignar ao rebaixamento à série b do Campeonato Brasileiro pois aqueles que ali no representavam, sejam jogadores e dirigentes, ousaram renegar nossas origens e, sim, fugiram da luta. Lógico que exceções existem e na pessoa do goleiro Danilo Fernandes, com todo o seu caráter de vencedor, eu isento aqueles poucos que sobraram.

Ano que vem estaremos pela primeira vez no limbo, ainda que há 37 (trinta e sete) anos é o que temos patrocinado, ano após ano, nas disputas do campeonato brasileiro. Não chorei, mas escrevo este texto com uma tristeza imensurável. Para os amantes do futebol explicar a paixão que sentimos é algo quase que impossível, no meu caso, com um agravante: É o Inter! Como dói ver meu Colorado das Glórias (e para mim sempre foi e será) tendo de corrigir seu rumo assim, da forma mais funesta para um Gigante como és.

Mas tudo há de ser como antes.

Vamos sofrer a nossa dor, lamentar os nossos erros, lamber as nossas feridas e levantar. Bater o pó que levantou do chão, erguer a cabeça e começar tudo de novo. Li em algum lugar que vamos enfrentar o inferno e voltar de lá como demônios. Vamos voltar de lá como demônios. Demônios!

E eu estarei lá contigo, "tu és minha paixão e não importa o que digam, sempre levarei comigo, minha camisa vermelha...". 

Como referi, nasci Colorado e vou dessa forma até o fim. Não sou mais Colorado que ninguém, mas desde domingo mais Colorado do que eu já fui até agora. O Colorado peleador vai ressurgir das cinzas e fazer vibrar o Brasil inteiro com o Clube do Povo do Rio Grande do Sul.

E é isso que somos, o Clube do Povo.

E nada, e nunca, nada vai nos separar!

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