terça-feira, 11 de janeiro de 2022

Uma cerveja num boteco qualquer

 Já estão abertas as porteiras de 2022 e eu poderia vir aqui traçar planos e metas para o ano vindouro. Mas, não vou. O mundo já não nos mais permite pensar com tanto afinco no futuro e, particularmente, também já cansei de fazer projeções para minha vida. Não adianta ficar sonhando muito, quando a realidade que nos contorna não permite ir muito além do amanhã.

Chego a conclusão, e isso não foi hoje, apenas estou rememorando, que quanto mais simples é a vida, melhor. Vejamos o simples ato de tomar um copo de cerveja num boteco qualquer. Até isso hoje precisa duma cerimônia quando, não vai muito, bastava passar na frente, estar com sede e pedir uma estupidamente gelada. ficar ali bebendo com o livre pensar povoando, indo longe mesmo sem sequer se mexer na cadeira ou no banco junto ao balcão. Aliás, sequer se fazem mais botecos com os bancos juntos ao balcão. É velho demais. Sequer temos botecos raiz, é de se dizer.

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Eu sou velho e prefiro me sentir assim. Aproveito das modernidades, admito, mas gosto mesmo de carro antigo, de costumes e gostos antigos. Eu sou antigo. Ou saudosista. Chamem como quiser. Mas sou e ponto final.

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Mas, voltamos ao que interessa: a cerveja num boteco qualquer. Lembrei agora do velho Tertúlia em São Chico, 18 anos recém chegados, e eu já podia sentar numa mesa do mais antigo e tradicional bar de São Chico (ainda aberto) e pedir uma cerveja. Apenas pedi uma ao carismático Sarrafinho, famoso garçom, que na maior "cara de pau" me trouxe uma marca ruim - hahahaha. Figuraça!. Tanto faz, bebi igual, mas também aprendi: não basta pedir uma cerveja num boteco qualquer. Tem que ser "A" cerveja.

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Sou um apreciador de cervejas, porém algumas marcas tradicionais nossas eu não tomo mais. E já adianto que não fui eu que fiquei chato, foram as cervejas que pioraram. E muito! 

Lástima!

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Numa dessas de beber uma cerveja num boteco qualquer, lembro-me de ter hospedado num hotel no centro do Rio de Janeiro. Pouco falam do centro do Rio sem ser de forma pejorativa, mas é só mais um como outro qualquer. Era um bar de esquina, tradicional e histórico. Tinham mesas, é bem verdade, mas fui direto para o balcão. Na época os cariocas tinham uma marca preferida que felizmente não era a minha, o que me dava maior chance da minha predileta estar mais gelada, afinal, saía menos. De fato estava estupidamente gelada. Aliás, cerveja bem gelada não é uma iguaria fluminense. Definitivamente não é. Mas aquela estava e com isso não foi uma cerveja que tomei. Foram muitas.

Certa altura da noite que já havia caído, experimentei o galeto da casa, outra guloseima que os cariocas apreciam. Espetacular! Ou eu estava já bêbado para sentir o gosto real. Mas prefiro pensar que era espetacular. 

Não sei como cheguei de volta ao hotel, mas era próximo.

Só sei que, e podem me chamar de saudosista, talvez neste momento eu até nem queria estar tomando uma cerveja num boteco qualquer, mas naquele boteco do centro do Rio de Janeiro.

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Mas pra isso, preciso voltar a beber antes.

E matar a saudade duma cerveja num boteco qualquer.


Bom 2022 pra todos.

Abraço e boa semana. 

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