quinta-feira, 31 de maio de 2018

Vida de gado

Obviamente, acompanhei todos os rumos das paralisações protagonizadas pelos caminhoneiros, e que, enfim, pararam o Brasil. Decidi escrever sobre isso somente hoje, todavia, pois ao longo de toda a celeuma que foi gerada, fui criando percepções diversas, de modo que chego neste momento com um pensamento bem diferente daquele que tinha lá quando eclodiu tudo.

Feliz de mim (e de nós) que a vida permite rever conceitos e ideias. Decidi, entretanto, não ficar trazendo um apanhado da minha mudança de opinião, mas sim, registrar aquilo que me pareceu um ponto final, no meu pensar, acerca de todo o corrido.

Embora tenha surgido dum sentimento generalista de manifesto em prol da população brasileira, a verdade é que ao seu final, a greve dos caminhoneiros só trouxe benefício para a própria categoria. E digo mais: os benefícios são maiores ainda para os empresários do setor do que para os carreteiros autônomos, os que mais sofrem, afinal.

Mas o meu foco maior ainda é traçar algumas considerações sobre o povo brasileiro, este que vive deitado no berço esplêndido, que não luta sequer para baixar a gasolina e que não se importa de passar toda a madrugada na fila dum posto de gasolina, ao invés, quem sabe, de deixar o seu carro em casa.

Este povo que até gostou da bandeira levantada pelos caminhoneiros, mas que foi para os supermercados e comprou tudo o que vinha pela frente, em quantidades absurdas, pensando que o amanhã, este tal qual conhecemos a cada novo dia, não mais fosse existir.

Este povo que já quedou silente e não mais se importa em pagar quase R$ 5 num litro de combustível. O importante é ter, afinal.

Pois tem uma música, das mais belas do cancioneiro brasileiro, que define o brasileiro com uma riqueza de detalhes. Falo-lhes de "Admirável gado novo", do grande e talentosíssimo Zé Ramalho. O refrão, então é de nos saltar os olhos:

"Ê, ô, ô, vida de gado
Povo marcado, ê!
Povo feliz!
Ê, ô, ô, vida de gado
Povo marcado, ê!
Povo feliz!"

O brasileiro é um povo marcado, afinal, pela falta de perspectiva, por ser acossado por tantos impostos, por não ter boca pra nada, por ser feliz...

O brasileiro é um povo feliz!

É... que coisa.

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