quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Diminuir é crescer

Certa feita, quando ainda era funcionário público (sim, eu fui funcionário público por quase uma década), um diretor da época dizia que não era papel do poder publico acumular patrimônio e que a política administrativa pública deveria privilegiar uma ideia mínima de bens imóveis, focando e canalizando recursos na prestação do serviço público a que se destinava a repartição/ente.

Na oportunidade confesso que eu achei que a história era meio sem nexo, pois a política de pagamento de aluguéis também não era uma ideia lá muito vantajosa. Lembrava, por exemplo, da prefeitura de Novo Hamburgo quando o meu pai passou a lá trabalhar que, por incapacidade física do então prédio principal da mesma, locava diversos prédios nas quadras do entorno para poder alocar todos os serviços; situação esta que restara suprimida com a inauguração do novo centro administrativo da cidade onde se concentraram todas as secretarias.

Hoje, todavia, percebo um pouco o entendimento do referido diretor.

Não vai muito, li uma notícia acerca de leilão de imóveis dos Correios, em algumas cidades do Rio Grande do Sul, com destaque para um na Capital, um terreno com 51 mil m² e um prédio do tempo do "epa" construído em meio a um descampado: sim, no meio praticamente do nada. Inclusive ruas foram feitas e asfaltadas só para chegar nele. Incrível!

Qual a lógica, afinal, de ser dono de um imóvel com estas características?

Recordo-me, ademais, do prédio do IPE (Instituto de Previdência do RS) em Novo Hamburgo. Não é no centro nem centralizado, mas também não é tão ruim de chegar. Só que parou no tempo, ficou velho e obsoleto. Aí o IPE alugou um local mais adequada, novo e reformado, e o prédio velho tá lá, uma tapera abandonada. Qual o sentido disso, afinal?

Ademais, repartições públicas nunca foram bem planejadas, parecendo um sequencia de "puxadinhos" internos. 

Os tempos hoje são outros. É preciso se adequar a realidade e parar de colocar dinheiro fora. Onde eu trabalhei, numa das cidades que estive lotado, se usavam salas próprias (eram duas) e por vontade política do então gestor local se adquiriu um novo imóvel. Até hoje (quase uma década), pelo que sei, todas as reformas necessárias não foram realizadas no imóvel atual, de modo que parte dele se encontra inutilizado. As salas anteriores, por sua vez, seguem ociosas porque todas as tentativas de leilão ou mesmo de venda direta foram fracassadas. Ou seja, um retumbante prejuízo.

É preciso gerir a coisa pública de forma mais séria, convenhamos. O dinheiro público, embora pareça uma fonte inesgotável de recurso, tem na sua origem o bolso suado de trabalhadores, pessoas que muitas vezes não tem nem um imóvel para chamar de seu.

Enfim, as vésperas de mais uma eleição, certamente meu voto será depositado (se eu realmente o praticar) naquele que, além de todas as demais premissas básicas, tocar no assunto da reforma administrativa, na política de enxugamento da máquina pública, na readequação do patrimônio para com a realidade atual. Ora, hoje em dia, quase tudo pode ser resolvido pela internet. Passou da hora de ir enxugando o tamanho da coisa.

Ou seja, diminuir é preciso. Para otimizar e crescer.

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