terça-feira, 6 de maio de 2008

E o bolo deu bolo

No último sábado, três de maio deste corrente ano, realizou-se o baile de aniversário do CTG Rodeio Serrano na minha querida São Francisco de Paula. Cinqüenta e três anos de histórias pra contar. Muita magnitude e muitas glórias elevaram o nome Rodeio Serrano para as alturas. Bons tempos que já não se fazem presentes nos dias atuais. Há alguns anos o querido CTG já não se acende através do seu brilhantismo.
Confesso que não estava nem um pouco animado para ir a este baile. Diversos fatores tem me distanciado da vida fandangueira, no entanto, pressões do casal de amigos Antônio e Dani e da minha própria namorada Ana, me fizeram rever a minha posição, e lá fomos nós, abaixo de chuva, cerração e dum friozinho ameno (hehehehe), bailarmos ao som do Zezinho e Grupo Floreio. Por sinal uma boa música, bem trabalhada e sem comprometimento. Destaques para o talento da gaita do Zezinho, da guitarra do Romualdo Moura e da batida forte e compassada do baterista. Completando o time, um baixista que não comprometia e um vocalista que quando fazia o simples (cantar evidentemente) ia bem. A pena é que de vez, baixava um Sidnei Magal dos pampas no cantor e daí, bem, daí eu prefiro abster-me de comentários.
Mas o principal astro da noite não era o cover do Magal, e sim o bolo. Em festa de aniversário o bolo só não é o astro maior da festa porque tem o aniversariante. Mas entristece-me dizer que neste caso, o bolo se superou.
Chegamos nas dependências do CTG Rodeio Serrano por volta de onze da noite, e para nossa surpresa poucas pessoas se encontravam ali a espera do fandango de aniversário. Pouco antes da meia noite, entramos para o salão e a zero hora do dia quatro de maio roncou a gaita do Zezinho pelo salão. Detalhe, neste momento não haviam muito mais de cem pessoas presentes no fandango. Aos poucos, a coisa foi melhorando, os gaudérios e simpatizantes foram chegando devagarito e por volta de duas horas da manhã já tinha cerca de quatrocentas pessoas dentro do salão do CTG. Um número mais considerável, mas bem aquém da história do Rodeio Serrano. O galpão que já recebeu fandangos memoráveis com Os Serranos, Os Monarcas, Os Mirins, Garotos de Ouro entre outros, sempre com casa cheia e sobrando gente na rua, agora não consegue nem colocar metade da sua capacidade máxima. Não quero desmerecer a figura do Zezinho, bem pelo contrário, tocou um fandango digno da data.
Mas como eu ia dizendo, no início do baile poucas pessoas faziam parte da festa. Comentei isso com meu grande amigo Jairo, secretário do CTG e ele de pronto concordou comigo. Conversávamos e nos perguntávamos, onde estariam os “caciques” da cidade que participaram da história do CTG e de certa forma ajudaram a levá-lo para o buraco. Desculpe a franqueza, mas detesto mascarar situações. O CTG Rodeio Serrano, assim como a maioria dos CTG’s gaúchos, está mal das pernas pura e simplesmente por más gestões. Decisões equivocadas ao longo dos últimos anos, deixaram os CTG’s em situações catastróficas. E outra, muitos, ao longo do tempo, tentaram elitizar os eventos dentro dos galpões deixando o povo e a juventude de lado. Resultado de tudo isso? Um bailão em cada esquina ganhando dinheiro valendo e os CTG’s falidos.
Mais e o bolo? Pois, sábado, no galpão do CTG Rodeio Serrano, toda esta derrocada que vem vindo dos últimos tempos foi ilustrada pelo episódio do bolo. O doce da festa ficou amargo e virou chacota. Aos desconhecidos, para que se possa chegar ao salão de baile do “CTGuampa”, é necessário passar pela churrascaria existente nas dependências. Pois bem, membros da patronagem vieram trazendo da sala de administração, que fica junto ao restaurante, o bolo em cima de uma mesa com rodinhas. Entraram pelo salão e aquele bolo brilhava. Tudo ocorria bem até que uma das rodas trancou num desnível do assoalho velho de madeira. O bolo até então quietinho e intacto em cima da mesa, deu um salto mortal e estribuchou-se no chão sem dó nem piedade. Lamentável! Pelo que isto representou na história do CTG e pelo fato de ter tantos passando fome por aí. Não sobrou camada em cima de camada, merengue em cima de merengue. Uma pena! Felizmente o Zezinho, macaco velho, contornou a situação e meteu gaita valendo, prosseguindo o fandango.
Este sem duvida, é mais um episódio triste da história deste grandioso CTG. Não culpo a patronagem atual, que dentro de suas possibilidades está fazendo o possível e o impossível para manter viva a chama campeira que levantou esta magnífica instituição no alto da serra. Vamos torcer para que a comunidade resgate o ímpeto solidário e fandangueiro ajudando a trazer de volta os tempos de glória do tradicionalismo. Que pessoas como o Antônio, a Dani, a Ana, o Jairo e este Campeiro que vos escreve, mantenham firme a luta pelo gauchismo, dando seu apoio e sua força, apesar de todas as adversidades que nos surgem. Quem sabe o qüinquagésimo quarto aniversário entre para história como aquele que trouxe de volta todo o brilhantismo do Centro de Tradições Gaúchas Rodeio Serrano, nos campos dobrados de São Chico de Paula.

Obrigado aos amigos pela companhia.
Forte abraço a todos.

Um comentário:

Antônio Dutra Jr. disse...

Muito bom o texto, primo velho! Conseguiu extrair uma bela mensagem daquela cena estapafúrdia que foi ver o bolo caído no meio do salão.
De minha parte, conte sempre com meus esforços para manter a tradição e, se Deus quiser, para bailarmos no 54º aniversário ao som de um baile bom e de CTG lotado.

Abraço!