sexta-feira, 15 de maio de 2009

Vida de músico

Toda quinta-feira à noite faço uma retrospectiva dos fatos da semana tentando encontrar um assunto valioso a ponto de merecer que este Campeiro trace algumas linhas para ampliar o debate. Geralmente tenho tentado focar os assuntos no âmbito tradicionalista, pois, considero que anda faltando fundamento nestes últimos textos. Eu digo fundamento no caráter regionalista, que fale do gauchismo. Assuntos de caráter social tem sim fundamento quando são tratados se forma correta e transparente, contudo, creio que este blog tem tratado muito da vida da humanidade e deixado um pouco de lado o nosso virtuoso berço gaudério. Lamento não estar surgindo assuntos pertinentes para tanto. Na realidade eu até tenho um assunto bem pertinente, porém, da mesma forma que é pertinente é polêmico e acreditem: sexta-feira não é dia de polêmica. Sendo assim, vou tratar de falar de algo que não é polêmico mas que é prazeroso e cansativo ao mesmo tempo: a vida de músico.
Ontem conversei por um tempo com o meu amigo Maicão, vocalista do grupo Tchê Moçada (aliás, por sinal, um baita vocalista). Falávamos da real situação dos conjuntos musicais gaudérios da nossa região e da dificuldade que temos para fechar uma agenda mensal hoje em dia. Para vocês terem uma idéia, meus caros leitores, só no mesmo dia de ontem falei com quatro representantes de CTG’s da região e de concreto não consegui nenhuma data de fandango. Não sei informar-lhes se a falta de bailes promovidos pelas entidades tradicionalistas é um reflexo da crise econômica global que de certa forma atinge todos nós, mas o fato é que há sim uma retenção de eventos neste nosso entorno. Comentavámos eu e o Maicão, da necessidade de ter uma outra forma de renda afora a vida de música. Hoje em dia, fora os conjuntos musicais renomados, todos os músicos desempenham funções distintas ou ligadas a música, durante a semana ou quando não estão tocando. Nada nos assusta pois sabemos que até os músicos renomados um dia tiveram que fazer o que fazemos, no entanto, a possibilidade de um caminho longo pela frente nos põe em alerta, certamente.
Para ilustrar um pouco a minha vida de músico, vou voltar um pouco no tempo e relembrar da época do extinto grupo Alma de Campo. No ano de 2006, éramos seis músicos sendo quatro deles sócios (inclusive eu). Por questões financeiras e de contenção de despesas, não tínhamos nem ônibus nem equipe técnica para fazer a montagem e desmontagem do equipamento. O translado do equipamento da casa do Deine (um dos sócios) até o local onde seria realizado o baile era feito pelo Airton (também sócio) no seu caminhão. O Airton descontava apenas a gasolina. Os demais iam de carro comigo e eu nunca cobrei a gasolina. A montagem e desmontagem do equipamento era feita pelos quatro sócios, por vezes ajudados pelos dois músicos contratados. Tocado o baile, que geralmente tinha por volta de quatro horas, mesmo cansados, ainda desmontávamos tudo, colocávamos dentro do caminhão e depois descarregávamos na casa do Deine novamente. Foram sem dúvida, dias cansativos, contudo, eu nunca reclamei. Pelo contrário, sinto saudade daquele tempo, afinal, bons momentos vivi com os guris do grupo Alma de Campo.
Seguidamente ouço algum gaiato gritar por aí que ser músico é fácil, que é só subir no palco, tocar, cantar e depois disso descer rodeado de mulheres enlouquecidas. Não sabe este teatino, que o cansaço físico e emocional depois de quatro horas de baile, por ter que desempenhar com qualidade e com exímio respeito as nossas tradições as músicas, é tamanho, que a única palavra feminina que queremos ouvir é cama. O trabalho é desgastante como qualquer outro. No entanto, eu não reclamo, pois, estou fazendo o que gosto e porque as pessoas estão gostando do que eu estou fazendo. E alegria alheia, é o que basta pra fazer um músico feliz.


Segunda-feira trarei uma novidade para os fãs do GRUPO FANDANGUEIRO.
Um abraço a todos e um bom final de semana.

***
Acompanhe o GRUPO FANDANGUEIRO:

Dia: 16/05 (Sáb.) - Baile no CTG Desgarrados da Querência em Sapiranga/RS

e

Nenhum comentário: