segunda-feira, 15 de março de 2010

Sintetismo

Com o passar dos tempos as coisas tendem-se a serem mais sintéticas em nossas vida. A cada dia que passar o surrealismo é mais presente em nossa realidade de tal forma que acabamos esquecendo de como era, passando a viver apenas o como é. Não , este não será um texto recheado de melancolia, apesar que, certamente terá um pequeno tom crítico regado a humor negro. Sarcástico, eu diria. Aliás, devo admitir que o sarcasmo é um artifício que utilizo quando não gosto de alguma coisa ou de alguém, e não estou disposto a discutir sobre este ou aquela. Pendo para um humor escrachadamente não literal de forma que acabo me excedendo as vezes. É uma característica minha, fazer o que. Por mais que eu não esteja certo em agir desta forma, ainda acho que é melhor do que ficar discutindo. O que devo aprender é a ficar quieto. O desprezo é sempre uma arma muito mais eficaz. Mas voltando o rumo desta epopéia de palavras, que , ao cume, pretendo que torne-se um texto legível, algumas situações rotineiras acabam por transformar a nossa evolução em algo até mais fácil eu diria. Diria também que o fácil nem sempre é um caminho muito vitorioso. Ao meu ver a conquista com o próprio suor, rompendo as barreiras que se postam ao caminho é muito mais saborosa. Não condeno quem tem sorte ou pai rico. Acho que se eu tivesse eu também aproveitaria. Enfim, essa nossa evolução nos trás novas diretrizes, algumas boas e outras nem tanto. Diria que simplória esta minha colocação. Diria também que algumas coisas que surgem por aí, acabam transformando as nossas próprias vidas em formas de simploriedade.
Nos últimos nove meses tenho almoçado corriqueiramente em restaurantes. Um desprazer. Primeiro porque por melhor que seja, a comida de um restaurante nunca é igual a que a mãe da gente faz. Segundo, porque a gente sempre se excede com as bobagens e engorda as pencas. Fatos! Mas bem, estes dias comecei a perceber que as lasanhas servidas nestes restaurantes, sem exceção, não têm mais queijo. Camada de massa, camada de recheio, massa e recheio, e só. Queijo mesmo, umas fatias miseráveis por cima e olhe lá. Na maioria das vezes é queijo ralado mesmo. A idéia dos proprietário é que o queijo é muito caro. Idéia equivocada uma vez que o que movimenta o seu comércio é a satisfação do seu cliente. Eu como cliente sou um insatisfeito então! Vou arrumar uma meia dúzia de gaiatos e começar um movimento social denominado: Quero queijo na minha lasanha! Faremos barricadas e acampamentos em frente aos restaurantes até que, depois de diálogos intermináveis entre nós e os proprietários, mediados pelas autoridades e acompanhados pela mídia, possamos chegar a um consenso. Cada um cede um pouco e a vida volta a sua plena e tão mascarada felicidade. Estes tempos eu estava trabalhando, ainda em Novo Hamburgo, quando um senhor me saiu com uma mais ou menos deste jeito: Tu tens microondas em casa? Mediante minha resposta afirmativa, ele prosseguiu: É uma maravilha né? E pensar que a uns anos atrás eu tinha que ficar meia hora em frente ao fogão esperando o leite ferver, torcendo para que não houvesse um descuido da minha parte e o leite derramasse sobre as bocas do gás e fizesse aquele estrago todo. Agora, são penas alguns minutos. E a nata que criava? Metade da caneca de leite era nata, vinte cinco por cento ia fora porque sempre caia uma mosca e o resto a gente tomava quando o gosto não era de azedo. Hehehe. Otimista não? Para este a nova realidade realmente parece ter caído do céu.
Estes dias me chegou um conhecido dizendo que fora num baile com uma banda de bailão. Banda de nome, estrutura muito boa, agora, o arranjo principal era ruim. Ou seja, os músicos, aquilo que realmente é o que importa numa banda, não eram bons. Culpa deles? Não. Culpa dos contratantes, os quais, nesta gama, incluem-se os patrões de CTG. Todos querem música, mas de graça ou quase assim. A arte está sendo tão banalizada que nós músicos estamos sendo chacoteados por aí. Estes dias um teatino me disse que o meu preço estava muito caro, que o fulano fazia por muito menos. No início eu argumentava. Hoje eu respondo da seguinte forma: Então corre pra contratar ele. Não corre o risco de perder tal negócio imperdível. Agora, não esquece que o preço dele esta atrelado a qualidade que ele vai te apresentar. Enfim, este sintetismo da vida moderna, pessoas pouco preocupadas com as outras pessoas, a arte sendo relegada a sarjeta; a música gaúcha ainda longe dos seu primórdios e aureos tempos... Enfim, isso são os adventos das etapas mal construídas entre a transposição do ontem para o hoje. Solução. Acho que não. O que podemos tentar é amenizar, ainda que parcialmente, as conseqüências do amanhã. Sem sucesso, talvez.
_
Abraço e boa semana a todos.

Nenhum comentário: