Desta vez foi premeditada a
minha ausência ontem. Posso, inclusive, ser culpado por isso. Ocorre que a esta
altura de minha vida, dada vista a proximidade com o fim da minha graduação,
tenho que optar por algumas prioridades e a faculdade tem vencido a briga. Minha
querida e amada São Chico tem sofrido as mazelas de minha ausência, creio eu.
Aliás, acho que eu tenho sentido mais a saudade. Por vezes, me pego de olhos
fechados a refletir sobre as belezas da minha terra, com aquele velho minuano
parceiro, cortando o rosto e trazendo um ar puro, com cheiro de campo, de mato,
de terra e de serra. Oh coisa boa. Num fim de tarde, arranchado num galpão meia
parede de taipa, um mate velho parceiro vai passando de mão em mão, com a gauchada
ao pé do fogo de chão vertendo também dali, uma sapecada de pinhão das buenas. Vejam só
que até rimou o meu conto. A vida, afinal é assim, quando pensamos e fazemos
coisas que gostamos, soa como poesia.
***
Parece-me que o processo
eleitoral parece ganhar ares de realidade, ainda que esteja longe de ser o que
já fora outrora. Fazer política antigamente, principalmente em cidades como São
Chico, também soava como poesia. Era um ambiente diferenciado, as pessoas
pareciam que só respiravam política, nas rodas nas varandas das casas, nos
escritórios, na rodoviária, em tudo, só se falava nisso. A expectativa era
saber se o favorito ia mesmo confirmar na urna, ou se haveriam “força$ oculta$”
capazes de reverter o pleito no último suspiro. Lembro de um vez, creio que em
1992, de um comício que fui no Lajeado Grande, distrito de São Francisco de
Paula, com o salão paroquial lotado. Há certa altura do evento, o sistema de
som parou de funcionar obrigando os candidatos a falarem gritando suas
propostas para o povo. Bons tempo aqueles ou divertidos, ao menos. Hoje em dia,
sequer se fazem mais comícios. Subir a um palanque eleitoral, no meio de milhares
de pessoas e falar elas era facilidade de poucos. Daí que os comícios eram uma
arte. Se fazia política como arte.
***
As vezes tento ser menos nostálgico.
Procuro pensar que a realidade hoje é um reflexo dos adventos do novo mundo e
que não dá mais para remar contra a maré. Mas até pensar e viver em nostalgia é
uma espécie de poesia. Você já viu alguém escrever poesia ou mesmo música
falando de algo que ainda não aconteceu? Que existe, existe, mas não é a regra.
É dos tempos de outrora que surgem as boas recordações, as saudades e as
passagens que já não voltam mais. Ontem, eu estava apenas adentrando na faculdade,
como um jovem sonhador. Amanha, ou breve, estarei saindo com um diploma na mão
e uma responsabilidade e tanto. Como era bom o tempo de criança em que a responsabilidade
se limitava a respeitar os pais e avós, ir bem no colégio e no mais, a farra.
Engana-se aquele que acha que a vida não é como a arte. A vida é sim como
poesia, com começo, meio e fim. Tem também todo um encantamento recheado de
emoções. E como encanta!
Abraço e boa semana a todos.
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