sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

O veraneio do Tio Laudelino - final


A "vingança" carnavalesca


Dizem que nos tempos do bloco dos Teixeira, lá no fundo da Picada Velha, onde foi criado, Tio Laudelino flertava com a folia que era de dar gosto. Hoje, contudo, parece detestar o carnaval, haja vista que até das mulatas quase nuas da televisão ele reclama. Se bem que reclamar, ultimamente, tem se tornado o esporte favorito do Tio: oh véio ranzinza! Mas, e sempre tem um mas em tudo, naqueles dias da véspera do momo, Tio Laudelino tava mais faceiro que lambari de sanga. O Bento e a Vera chegavam  a rir sozinhos pelos cantos, afinal, achavam que o velho tava “no papo”. Eu, porém, ainda que conhecesse pouco o Tio – muito em função das belas férias que passava lá fora, quando guri – tinha para comigo que o Laudelino aprontaria uma das buenas! Em verdade, vos digo: a certeza me rondava!

Pois no almoço da sexta-feira de carnaval o anfitrião sentou à ponta da mesa com um sorriso ‘de orelha a orelha’, prometendo uma “baita notícia”, que alegaria a todos. Bentinho e Verinha, nesse momento, regrediram aos tempos de criança e chegavam a soltar granidos de emoção. Cousa fiasquenta! Depois de dar dois tombos numa costela uruguaia; aliás, uma das boas coisas do litoral era a costela uruguaia: macia, suculenta e saborosa, Tio Laudelino começou a história toda fazendo uns floreios, coisa meio estranha até para um gauchão sem rodeios e, ao cabo, disse que venderia a fazenda. Tia Maria derrubou a faca que tinha na mão e, por pouco, não abriu um talho no pé; prosseguiu dizendo que tinha gostado da temporada na praia e que se mudaria de vez para Arroio Teixeira. Nesse momento, quando achei que teria de aparar Tia Maria, que fatalmente se "passaria" com aquela história, tive que acudir Verinha que desmaiou num golpe só. Bentinho, bem, esse chorava feito um bebê.

Foi nesse momento que o Tio Laudelino deu uma gargalhada que aposto que se ouviu da rua (uns guaipecas que passavam se ouriçaram). Me mandou pegar uma bacia de água gelada e tocar na Verinha, bem como gritou com o Bentinho que parasse de chorar, afinal, não criara filho “fresco”. Recompostos, mandou que sentassem no sofá e começou um sermão. A estas alturas quem estavas as gaitas era eu, com a cara dos “filhinhos do papai”. Tio Laudelino dizia que eles deviam se envergonhar de tramar às suas custas e às suas costas; que uma semana antes do “passeio”atendera o telefone meio sem querer (o Tio era a moda antiga e detestava telefone. Celular então, credo!) e na linha era um tal de João Alberto, arquiteto, querendo saber acerca do projeto de reforma e ampliação da casa da praia, e que o “seu Bento” e a “senhora Vera” haviam ficado de dar um sinal para obra e estava aguardando o cheque do “proprietário”: “Claro que mesmo sendo um índio grosso, logo vi que de mim é que o tal fulano tava falando”. Daí, que resolvera entrar nessa história toda, como um bobalhão, para ver até aonde a “cara de pau” dos “queridos filhos” iria.

“Me surpreendi!”, bufou o Tio: “achei que vocês eram ‘deitados’ e que se aproveitavam da minha boa vontade e do meu dinheiro, mas nunca pensei que chegariam a tanto”. E continuou: “vocês são tão ridículos, que acreditaram nessa estória dos tempos da velha Carocha: e eu lá vou vender a fazenda? Enlouqueceram!?” Mas antes de tudo, disse ter resolvido dar uma olhada no projeto e gostou do que viu. Por isso, resolveu contratar o tal arquiteto para fazer uma casa nova, no terreno da frente que também era dele mas que, por motivos que nem eu entendi, nunca contou. Quanto a casa velha? Deu para o Bento e a Vera. “Querem reforma? Trabalhem, façam e paguem!” E já aviso de que a casa nova, “por justiça” ficará para o Antônio Carlos e o Torresmo. Aliás, eles já sabem disso e da ‘papagaiada’ de vocês!”

Depois, como se nada tivesse acontecido, deitou na rede e sesteou a tarde inteira, para poder estar nos “trinques” para o carnaval da sociedade, à noite. Tio Laudelino, ao cabo, estava vingado e feliz. Muito feliz.

O que aconteceu depois? Bom, isso é matéria para outro conto, noutra hora.

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Meus caros amigos e amigas leitores deste blogue, depois de dois anos este que vos escreve novamente gozará de merecidas férias. Portanto, certamente haverei de ser menos regular num primeiro momento. Volto na próxima sexta-feira.

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