sábado, 15 de fevereiro de 2014

Desigualdade Social e o Bairro Canudos



Chega a dar náusea quando leio que a violência no Brasil é reflexo da exclusão e da desigualdade social. Isso é geralmente dito por quem não se dá conta de algo chamado “realidade”. Vivi muito tempo em Canudos, um bairro relativamente pobre e quando criança tinha uns 5 amigos mais chegados que eram de famílias bem humildes. Destes 5 amigos, eu tinha aquele que era meu “irmão”, Maurício. Mas eu notava que era um pouco mais abastado, pois apesar de morar num chalé de madeira que balançava com o vento, meus pais tinham carro, um chevette usado. Notem que esse era o cara abastado do grupo... Pois bem, Maurício, eu e os demais crescemos juntos até a pré-adolescência e infelizmente, hoje, alguns daquele grupo estão numa condição até pior que a do passado. Em compensação outros estão muito melhores. E porque? Porque ESCOLHERAM este caminho.

Você talvez pense que esta é uma visão simplista, como se bastasse escolher e pronto, a vida estaria resolvida. Obviamente, a opção pela dignidade e por um mínimo de conforto implica em estudar muito e trabalhar muito, pelo menos. E fazer tudo isso sem a garantia de reconhecimento e sem estabilidade é uma tarefa, as vezes, ingrata. Mas o resultado geralmente é recompensador, afinal, não seria apenas coincidência que os únicos daquele grupo de 5 que trabalharam desde cedo, investiram na educação, não se envolveram com drogas e nem com o crime, são justamente os que possuem melhores perspectivas sobre o futuro.

Esse é o fato que muitos não querem ver; a pobreza não justifica a violência. Quem justifica um assalto pelo passado pobre do bandido, coloca no lixo o mérito de quem é ou foi igualmente pobre, mas OPTOU por seguir um caminho digno, ou seja, a grande maioria da população. Não há dúvidas de que essa escolha individual está balizada na educação familiar. A transmissão de PRINCÍPIOS e VALORES não depende de classe social e também não depende exclusivamente da escola. Este papel cabe preponderantemente ao casal que sabe deitar para fazer um filho e que não pode se esquecer de levantar para ir criá-lo.


Para finalizar, caso não tenha concordado, responda a seguinte pergunta: Como o Brasil é cada vez mais violento ao mesmo tempo em que se torna mais rico economicamente e aumenta os benefícios sociais, segundo indicadores do governo? Falta de valores ou falta de riqueza? Olhando para o meu irmão Maurício hoje e vendo meu próprio passado e futuro, posso dizer a resposta.

Por Rodrigo de Bem Nunes

6 comentários:

Unknown disse...

Concordo em número, gênero e grau neste assunto, Rodrigo. Não canso de escutar de pessoas humildes, mas de também afortunados que a pessoa que segue a vida marginal foi por conta da pobreza e violência, e sempre levanto meu ponto de vista ferozmente, visto a minha própria história de vida. Você decide o que quer da vida e ponto. Se você vai ter feito esforço suficiente ou terás sorte para alcançar tudo que desejas, já é outro ponto. Mas quem decide pela vida marginal, seja um traficante,ladrão, pedinte ou prostituta, não é por conta da pobreza. Aprendi com a vida que levei que quem realmente precisa de dinheiro para sobreviver, não pede, trabalha! E nem adianta vir com a ideia de que trabalho é difícil encontrar, quem quer faz!Para tudo na vida há um jeito honesto! Só não há jeito para a morte! Belo texto! Parabéns

Anônimo disse...

Pois é meu grande amigo Rodrigo B. Nunes fico feliz por nós e ao mesmo tempo triste por nossos outros amigos que se deixaram levar...Seu texto está brilhante (assim como os demais)!!! Creio que uma fração importante para sermos o que somos hoje e que temos em comum também, foi a incrível e inquestionável criação e educação que tivemos de nossos pais. Cada qual com suas características e possibilidades, formas e jeitos mas de tamanha grandeza e imensurável amor. Nossos pais nos deram muito, mas muito carinho, atenção, direção, os Sim" e os "Não" enfim...inúmeros presentes que o dinheiro não nos traria. A outra fração, também de grande vália, fomos nós que buscamos e estamos construindo em nosso cotidiano nessa selva de pedras repleta de armadilhas e frustrações. Muito trabalho, dedicação, vontade de fazer diferente, de se fazer diferente..não ser mais um na multidão! No entanto, sabemos que este não é e nem será o caminho mais fácil e nem o mais breve. Mas seguiremos firmes buscando nossos objetivos e metas ao lado de pessoas especiais e queridas. Sempre digo não busco a riqueza e sim a felicidade. E a felicidade não é cara não: lembra nossas partidas de "pinica" no pátio e nossas partidas de goleirinha no asfalto!??? É isso que me motiva!!! Um grande e forte abraço e mesmo que a distância geográfica aumente entre nós, seremos eternos e grandes amigos!!!! Fica com Deus meu IRMÃO!!!

Anônimo disse...

Concordo em pequena parte! Na verdade bem pequena! Amigo, sim, que se esforça tem chance de sair de uma situação complicada e melhorar de vida, mas a pergunta que você deve se fazer é "qual o nível de esforço para isso?". Um garoto de origem pobre pode estudar a vida inteira para alçar sua condição, mas terá igual condição de competir com um menino de classe média alta que fez uma série de cursos e formou-se nas melhores universidades do país (ou fora dele)? não, não terá. Para o garoto rico a vida será muito mais fácil. Ainda assim, não é motivo para o pobre ser bandido, mas se você cresce marginalizado (à margem da sociedade) com uma frequente oferta do caminho negativo à sua frente, é muito mais fácil para você ser um bandido do que para o menino rico, dentro do seu apartamento cujo o único contato com o crime se dá no GTA V. Até. Lorran.

Anônimo disse...

Lorran, Primeiramente grato pela contribuição! O intuito é este mesmo! Trazer pontos para uma discussão sadia. Bom, eu gostaria de responder às suas observações, o texto é um pouco longo, mas como historiador que és, sei que vais ler tudo. Teu comentário de maneira indireta, tenta minimizar ou justificar a violência através da dificuldade que a vida possui para uns e não possui para outros. Eu entendo o ponto, mas não aceito. A probreza e a dificuldade da vida não podem ser desculpas para quem OPTA por um caminho a margem da lei. Esse é o ponto: A opção. A suposta desigualdade da sociedade, quando utilizada para justificar um crime, abre um precedente perigoso, pois a sociedade é desigual com todo mundo. Poderia eu roubar um Iphone? Eu gostaria muito de ter um Iphone, todos meus amigos tem, mas eu não tenho como comprar sem ficar no vermelho. A sociedade é desigual... isso é justificativa para comprar um Iphone roubado? Jamais. Há um articulista chamado Paulo Sakamoto que chega ao extremo de colocar a culpa de um pequeno assalto na vítima que possui coisas que o ladrão jamais poderia ter. Um absurdo! O teu comentário não chega a este extremo, mas está no caminho. Para finalizar, eu lanço a pergunta novamente: Como o Brasil fica mais rico e tem mais benefícios sociais, mais facilidades para estudar e ao mesmo tempo mais violento? Bom, tentei dar meu exemplo pessoal para comprovar na prática que não sou um "guri de apartamento". Mas talvez meu filho seja e eu não gostaria que ele fosse culpado por algo que não fez. - Rodrigo de Bem Nunes

Anônimo disse...

Tô ligado! Novamente, não to defendendo bandido, têm uma diferença em você entender os motivos que o levaram a cometer o crime e defendê-lo. Eu acho que nosso país contribuí para a criação de marginais quando as desigualdades criam abismos entre as classes sociais, eu sei disso, mas não defendo. Acho que me entendeu mau... ;) Lugar de bandido e na cadeia e o cara que escolheu ser ladrão têm que pagar, isso é um fato. Eu só acho que o cara pobre tem mais possibilidade de se tornar um ladrão e o rico menos. O cara que é pobre e se dá bem é mais louvável ainda. Eu só entendo que o pai que tem uma arma e deixa todo dia em cima da mesa da sala têm mais chance de ver o filho brincando com ela do que se tivesse guardada em uma caixa chaveada entende?. Lorran

Antônio Dutra Jr. disse...

Eu também concordo contigo, Rodrigo, mas faço um adendo: a importante interferência da educação e da predisposição dos pais em contribuir para a escolha correta. Veja bem, não vou defender um bandido que tomou esse rumo porque seus pais foram negligentes a ponto de não abrirem os olhos do filho para o fato de que, mesmo pobres, há uma maneira de batalhar e alcançar os mesmos degraus que galgam aqueles que tem certos caminhos facilitados pela condição financeira; no entanto, convém que atentemos para o fato de que, em sendo negligentes, estes mesmos pais impedem seu rebento de ter a oportunidade de que é possível seguir o caminho correto rumo à honestidade. Enfim, é apenas um adendo, já que realmente é possível chegar ao sucesso a partir de uma origem humilde - diria inclusive que é até mais saboroso -, mas nunca sem a imprescindível força da educação que começa dentro de casa. Forte abraço!