terça-feira, 18 de agosto de 2015

Um viva à democracia!

Posso dizer que tenho a política correndo em minhas veias. Sou de uma família de políticos. No início da década de 1990, mal via o meu pai em casa, pois este estava coordenando campanhas à prefeito em São Chico de Paula; antes disso já havia trabalhado na campanha de um candidato a deputado federal, também da cidade. Não sou expert em política, mas o pouco que sei já serve para dar aula para muita gente. Verdade seja dita, sem melindre ou hipocrisia. Nunca fui filiado a nenhum partido, mas sempre tive a minha ideologia. Tanto é, que hoje ela não se amolda a nenhum partido, a ponto de ser difícil me inserir na política partidária. Do ano de 2009 para cá fui perdendo o interesse por discussões do gênero, ao ponto de em 2013 me pegar isento de qualquer ideal do tipo. Com a chegada do Rodrigo por aqui, voltei ao debate, ainda de forma acanhada, admito. Quer o Rodrigo que eu tome partido, não de alguma agremiação, mas de opinião. Relutei em ser taxativo; reluto, ainda. Opinarei algo, embora muitos não gostarão do vão ler, inclusive, o Rodrigo.

Não sou favorável à impeachment, embora, esteja ancorado na imensa parte da população que não está gostando do que vê e clama por mudanças. Também não quero a renúncia da Presidente da República. Explico.

Na sua curta história de ideologia democrática, o Brasil já passou por um impeachment, o de Fernando Collor. Também já teve renúncia, mais de uma. O caudilho Getúlio Vargas renunciou, e "saiu da vida para entrar para a história"; Jânio Quadros prometeu varrer a sujeira para fora do Brasil e não suportou um ano de mandato, e a sujeira ficou. Pois, de lá para cá, afora alguns momentos de suposta calmaria, a realidade histórico política do Brasil foi de tensão e muitas vezes calamidade. As renúncias, fomentaram o "interesse" militar pela ordem e o progresso do país que, numa linha bastante tênue, virou uma velada ditadura. Não tenho nada contra aos militares, mas sou um defensor ferrenho da democracia. Denota-se, que a corrupção mesmo assim não deixou de existir.

Quanto ao impeachment, não faltará quem diga que a saída de Collor foi a salvação da lavoura. De fato, houve uma melhora significativa, mas, comparo a time de futebol quando troca treinador em meio a temporada: no início os resultados vem e você até pode ser campeão, mas, depois, se a gestão não se profissionalizar, a maionese vai desandar novamente. O fim do governo Itamar e os primeiros quatro do governo FHC demonstram isso. Após, as sucessivas políticas de apadrinhamento, conchavos, troca de favores, as vistas grossas à corrupção, entre outros, nos deixaram neste brete que estamos atualmente. O PT de paladino da moralidade virou um imoral. A Presidente da República, que não é uma política de palanque, agora sofre sua difícil relação com a sociedade, fomentada pela condição de seu partido que, de salvação, virou o mais odiado do país. Pediu e levou, logo, nada mais justo.

Pouco antes do fim, finalmente - com o perdão da redundância, chego aonde queria chegar: o Congresso Nacional. Curto e grosso, tirar a Presidente da República e manter o Congresso Nacional como está, deitado em berço esplêndido da corrupção institucionalizada, é o mesmo que tomar banho e colocar a mesma roupa suja novamente; ou tapar o sol com a peneira; ou a velha máxima do cobertor curto. Sai Dilma entre Michel Temer. Jurista dos bons, político há algumas décadas, com fácil trânsito pelos demais partidos e uma bela esposa. Talvez venha a ser um bom presidente, ou não. Meu medo, contudo, é a falta dele. Será do Congresso Nacional a responsabilidade pelo país. Lembram quem são os presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados?  

Não consigo crer que dará certo.

A verdade é que a democracia brasileira precisa se consolidar e passar por perrengues do tipo talvez nos ajude a chegar a algum lugar. Do contrário, se a cada crise resolvermos tirar o presidente e começar de novo, chegará o dia que não teremos mais comandante. E aí quem volta para garantir a soberania do país? Adivinhem? As diferenças ideológicas devem existir, mas o país é um só. Daqui a pouco, sequer se terá um governo para a oposição ou quem quer que seja governar. Pois tá na hora da oposição se colocar à disposição do Brasil e não esperar pela sorrateira chance de chegar ao poder pela porta dos fundos.

Não defendo PT, nem Dilma e nem ninguém. Contudo, creio que ainda é muito cedo para se falar em troca de poder e me parece solução paliativa para problemas que uma democracia jovem sempre enfrenta. Agora é preciso enfrentar os problemas, Sra. Presidente. Utilize-se da cadeia nacional de rádio e televisão para dar uma satisfação ao seu povo, diminua ministérios e desinche a máquina pública. Menos medida provisória e emenda parlamentar. Mais leis úteis e valorização dos municípios. Precisamos de um real e claro pacto federativo onde todos, repiso, todos ganhem um pouco e percam um pouco, e não onde município e estado perdem enquanto a união enche os cofres (de quem?). 

Por isso, ao menos por ora, sou contra ao impeachment e à renúncia da Presidente da República. Talvez argumentos por aqui lançados possam me fazer mudar de opinião. Felizmente sei reconhecer quando estou errado, ainda que tenha firmeza nas minhas convicções.

E viva à democracia que me deixa pensar, deixa você discordar e, quem sabe, suplantar meu pensamento. Viva!

Boa semana a todos.

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