segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Sob as mangas do aguaceiro

Ontem à noite eu me sentei no sofá de casa para olhar um filme ao lado do meu pai, Dr Luis, como eu mesmo chamo. Nem sei quanto tempo eu não tinha a oportunidade de fazer isso, para se ver o quanto eu ando ocupado nos últimos meses. O título do filme é Fim dos Tempos (The Happening) estrelado pelo ator Mark Wahlberg, e trata de um estranho vírus que está se disseminando no nordeste norte-americano, capaz de manipular humanos e fazer estes provocarem suicídio. Não quero entrar muito em detalhes para não estragar o fim do filme, mas a causa possível de tal vírus seria as plantas, que estavam liberando uma toxina para se defenderem da ação humana.
Hoje no horário do almoço, pude acompanhar imagens da situação vivida pelo nosso estado vizinho, Santa Catarina, em decorrência das fortes chuvas que estão assolando a região da grande Florianópolis. Inúmeros deslizamentos, rios com mais de onze metros à cima do nível normal e um balanço negativo de quarenta e três mortos. Soterrados, afogados... Uma tragédia assustadora certamente. Mas, e sempre tem um mas em tudo, previsível. Sim, não estou flauteando não, a gente não quer que aconteça este tipo de coisa nunca, contudo neste caso, era sim previsível.
Desde a última sexta-feira eu não via televisão. Digo no sentido de telejornais, futebol ou coisa do gênero. Fiquei sabendo da questão ‘chuva intensa em Santa Catarina’ ainda na sexta-feira pelo rádio. No sábado ouvi mais alguns relatos, mas imagens do caos, mesmo, só vi hoje. No entanto, ainda na sexta-feira eu previ que a indústria imobiliária estava contribuindo para o ocorrido, informação atestada hoje pelo comentarista Lasier Martins no Jornal do Almoço (RBS TV).
Quem conhece o litoral catarinense já deve ter percebido o incontável número de residências construídas na costa dos morros. O belo litoral catarinense é rodeado destes, que dão o formato às enseadas paradisíacas. Tão paradisíacas, que os milionários empresários gaúchos, catarinenses e paulistas principalmente, fazem de tudo para construírem uma “casinha modesta”, com vista para o mar. Como os lotes em chão firme já estão tomados de “casinhas modestas”, avança-se em direção aos morros e constroem-se casas dependuradas, um verdadeiro serviço profissional de engenharia, vendido e disseminado por grandes imobiliárias.
Esquecem os engenheiros e os corretores de imóveis, principalmente, que a natureza precisa de espaço, e que quanto mais o homem invadir o espaço natural, mais a natureza será oprimida, e alguma hora virá o retorno. Que, para construir estas casas, se derrubam árvores (barreiras naturais contra os movimentos de terra), se desestruturam as bases destes morros que perdem a sua sustentação natural .E o preço de tudo isso é a vida de quarenta e três pessoas, mais os que já morreram em virtude disso, mais os tantos que infelizmente ainda morrerão. Não to aqui prevendo nada, mas é difícil não ser pessimista quando se vê o que o homem é capaz de fazer.
Enquanto não nos conscientizarmos que devemos viver com a natureza e não dá natureza, inúmeras calamidades como esta irão acontecer. O estado de Santa Catarina está sim sob as mangas do aguaceiro, mas isto, é apenas a ponta do iceberg.
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Que Deus o Patrão Velho, ilumine estes nossos irmãos catarinenses e que dê forças para enfrentar os devaneios que surgem pelo caminho desta gente amiga.
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Abraço e boa semana

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