sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Antigas cartas guardadas...

A cada dia que passa, perde-se um pouco mais do romantismo de outrora. Texto meloso em sexta-feira? Não, apenas um relato daquilo que tenho visto, ou não, por aí. O romantismo por si só não transforma ninguém em mais ou menos meloso. E neste caso, o romantismo fala daquilo que por anos estiveram a nossa volta, como um ritual, e agora esta perdido ou sumindo pela modernidade que aí encontra-se. Do que eu estou falando? Bem, como se pode ver este texto parece uma incógnita até aqui, tamanha a quantidade de interrogação que há nele. As perguntas de certa forma ilustram um pouco o real sentido deste texto, uma vez que assim acabo incitando a todos a lembrar de alguma coisa que o tempo fez com que deixasse de ser importante. Alguma coisa sempre é mais importante para um do que para os outros, porém, num contexto geral, o conjunto inteiro acaba por marcar uma época, um tempo geralmente bom que não mais voltará. Coisas do dia-a-a dia que no passar das horas é imperceptível e pouco interessante, amanhã pode transformar-se em algo que marcou nossas mentes e que resgata os bons adventos da lembrança. Boas lembranças persistem eternamente em nossas mentes trazendo, porque não, a tona impreterivelmente a saudade. E a saudade, a saudade é uma estrada longa que começa e não tem mais fim.
Estes dias na página três do jornal Zero Hora, havia uma foto reportando a década de 1970, no litoral gaúcho, mostrando antigos “objetos” junto a beira da praia que serviam de guarda-sol para os veranistas que se alojavam junto ao mar. Hoje, o que vemos é um mar de guarda-sóis de plástico, sintético ou algo do gênero, de todas formas, cores e jeitos. Lembram quando na praia sempre no início da tarde passava o tio de Kombi vendendo Puxa-Puxa e doces? Simples, singelos, prosaicos e deliciosos sabores adocicados vendidos de porta em porta. Ver o tio chegando agora de uno mille acaba por si só com toda vontade de experimentar os mesmos. Detalhe: não tem mais Puxa-Puxa, o que é, sem dúvida, uma lástima. Meu pai conta que na época que ele era guri ainda, nas festas de igreja lá no longínquo distrito de Cazuza Ferreira, município de São Francisco de Paula, não havia luz suficiente para música, freezer (nem tinha freezer naquela época), geladeira e etecetera. Sacrificava-se então a cerveja, que era armazenada em tonéis de óleo diesel (devidamente limpos e vazios é claro) carregados de gelo trazido pelo distribuidor da bebida e forradas por cima com serragem , afim de que, conserva-se um pouco mais a “refrigeração”. Diz ele que aquelas festas sim é que eram boas. Aonde estão os bolichos de campanha com queijos sobre o balcão e pernas de salame penduradas nas prateleiras? Se foram, restou-nos os mercadinhos: tão simplórios , bagunçados e sujos. Coisas boas se perderam por aí, certamente.
Se perder parte do romantismo de outrora, da vivência simples dos nossos pais e avós é o preço para o advento da modernidade, então estamos tendo um prejuízo incalculável. Não há como taxar as perdas trazidas por tudo isso. Já se foram os bailes de antigamente, os tempos de bigorna (alguém além de mim conhece um ferreiro que trabalha ainda por aí?), as festas boas de interior. Vivia-se com muito menos, mais simples e objetivo. Crianças se divertiam com bola, peão, carrinho de lomba e bodoque (a popular “funda”) E hoje? Quanta nostalgia! Se foi o romantismo da vida , perdeu-se este em alguma estrada de chão batido por aí. E a velha carta? Quem hoje em dia manda uma carta para alguém? Tem gente que não sabe mais nem escrever, tamanha a facilidade oriunda do computador, e-mail e outros. “Antigas cartas guardadas, que o tempo amarelou. São lembranças do passado que no meu peito ficou”. Palavras cantadas pelos Irmãos Bertussi que mostram o quão era a vida naquele tempo. De um tempo que da saudade. De um tempo, que eu nem conheci.
_
Forte abraço e um bom final de semana a todos.

Nenhum comentário: