quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Novela mexicana

Imprudência é a palavra chave quando surge nas rodas de debate o tema acidentes de trânsito. Passado mais um feriado, mais uma contabilização negativa e um saldo trágico de mortes. Para se ter uma idéia aqui no nosso estado foram quase vinte vítimas. Ironicamente um número a ser comemorado, afinal, no feriado de finados tivemos dez mortes a mais. Cômico, se não fosse indiscutivelmente trágico. Fico a me perguntar qual o verdadeiro motivo para esta mortandade toda? Será a falta de condições estruturais da nossas estradas? Um ponto plausível. Será a falta de instrução dos nossos motoristas? Os cursos de capacitação para novos motoristas não param de aumentar suas cargas horárias. Será a falta de instrumentos de controle de velocidade? Pardais já estão se bicando para ver quem fica ou não na beira da estrada. Ainda que o primeiro ponto, o que trata das condições de nossas estradas, seja relevante, o principal motivo mesmo atende pelo nome de imprudência. Soma-se a este quesito a palavra impunidade, ou melhor, sensação de impunidade. Eu tenho para mim que nada acontecerá comigo. Acidente acontece com o próximo, eu estou impune. E assim meus caros e minhas caras, dou uma de MacGyver nas estradas pelo mundo afora, afinal, tenho o corpo fechado e nada acontecerá comigo. Este infelizmente é o pensamento que ronda as cabeças motorizadas por aí. Mais um advento da sociedade hipócrita em que vivemos.
Antes que alguém sinta-se ofendido por eu tratar do tema hipocrisia, explico-me afim de evitar qualquer destempero. Quem leu a última postagem, da sexta-feira, sabe que estive na cidade de Torres. O evento o qual eu e minha amada Mariana participamos iniciou-se na sexta-feira e prosseguiu-se até o sábado. Por questões de comodidade, hospedamo-nos na pacata e aconchegante praia de Rainha do Mar, distante exatos setenta quilômetros da mais bela praia deste nosso Rio Grande. Inciando pela manha e encerrando-se somente a noite, não restou-nos outra alternativa senão enfrentar o período noturno no regresso a Rainha. Quem me conhece sabe que sempre que posso viajo a noite, enfim, questão de gostos e preferências que não vem ao caso; assim, logo, pode-se imaginar que fora uma viajem tranqüila. Doce engano amigos e amigas, doce engano. O feriado incitou milhares de pessoas a se deslocarem para o Litoral Norte e isso fez com que faróis na mesma proporção estivessem andando no sentido contrário ao nosso. Mas o que tem de mal nisso? Explico. A hipocrisia dos nossos governantes fez com que a popular Estrada do Mar fosse tomada por pardais. No trecho Torres-Rainha são nove o que dá, em proporções matemáticas, cerca de um a cada sete quilômetros e setecentos metros. Pasmem! Hipocritamente, a cada acidente grave que ocorre nesta estrada (pasmem novamente, ainda assim ocorrem acidentes) nosso governantes se inflamam de coragem e mais um controlador é colocado na rodovia. O que ninguém diz, é que a sinalização da mesma está em péssimas condições, que a visibilidade noturna não existe e que isso sim, é um fator determinante para a ocorrência de acidentes. Para se ter uma idéia, mal se enxergam as faixas contínuas centrais, quiçá, as que delimitam as laterais da pista que, por comodidade, não possui acostamento visto que este é usado como pista alternativa. Se não fosse a ajuda de minha formosa navegadora, mais uma provável vítima engordaria os números da estatística. Desviei de uma ciclista no susto, senhoras e senhores, eu não o vi mesmo.
Em suma, acabei por alongar-me no tema passando da hora de dar cabo a este texto, mais um deste meu regresso a pontualidade blogueira. Não posso, contudo, antes de encerrar, deixar de dizer que a cada dia que passa me impressiono mais com a quantidade de motoristas incapazes que existem soltos por aí. Sim, porque a maioria deveria estar preso ao invés de detrás de um volante. Estradas esburacadas e mal sinalizadas estão sim na cadeia de responsáveis pelo número excessivo de vítimas no nosso trânsito, agora, estas figuras que eu citei a pouco são os sujeitos da coisa. Atores principais, ilustríssimos leitores, de uma novela bem pior que as mexicanas melosas: trágicas e mortais!
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Um beijo pra Mariana, e um abraço aos demais.
Boa seqüência de semana a todos.

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