segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

A Estrada

Certa feita ao ser entrevistado por um canal de televisão, o ex-goleiro do Internacional e campeão mundial pela seleção brasileira Cláudio Taffarel explanou acerca da decisão de encerrar sua carreira futebolística. Confesso que não lembro da história em sua totalidade, mas um fato ficou retido em minha memória desde então. Ocorre que o goleiro na época estava jogando pela equipe do Parma da Itália. Com contrato encerrado, o mesmo negociava com uma equipe de menor expressão, da segunda divisão. Ao deslocar-se para a pequena cidade que abrigava tal clube, Taffarel fora surpreendido por um pneu de seu carro furado. O fato ocorrido serviu de sinal para o goleiro. Talvez o acontecido não fosse apenas uma falta de sorte mas sim, um aviso para que o mesmo encerrasse a sua brilhante carreira “por cima” como diz a gíria dos boleiros. Algo do gênero ocorrera com o meu pai anos atrás. O mesmo estava preparando-se para um concurso da Caixa Federal. As vagas, porém, eram apenas para o estado do Rio de Janeiro. Lembro-me que o mesmo deslocou-se de Novo Hamburgo até a agência central da CEF de Porto Alegre e eu estava junto. Lá, foi uma dificuldade ter acesso ao dito formulário de inscrição. Quando finalmente pode-se tomar posse do mesmo o velho o leu rapidamente e desistiu, afinal, segundo o mesmo, o salário a época não era compatível ao custo de vida de morar no Rio de Janeiro. Dois casos semelhantes em certo ponto e diferentes também. Agiu certo o ex-goleiro? Creio que sim. Agiu certo meu pai? Não sei. Talvez hoje a nossa realidade fosse mais favorável, ou não. Mas para saber isso era preciso que ele tivesse se escrito em talo concurso, feito a prova e, caso aprovado, fosse conduzido ao cargo. A estrada da vida é cheia de opções e, nem sempre, tomamos as decisões certas.
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Encerrou-se ontem o verão para os gaúchos. Sei que na teoria a estação mais quente do ano segue ainda por alguns dias, mas na prática, com o fim de fevereiro encerra-se a vocação praiana dos nossos gaudérios. Ouso dizer que nem o carnaval, este ano no próximo mês, será capaz de dar um último suspiro ao veraneio. Assim, aos poucos voltam-se todos a sua rotina diária corrida e concorrida. Ontem deu-se por fim a 27ª Cavalgada do Mar e eu que hoje falaria sobre ela acabei desistindo de novo. A própria mídia não deu muita atenção neste ano. A última matéria que li sobre a mesma foi na quarta-feira passada e ali, dizia-se não ter havido até então nenhuma perda de animal, o que, na prática, parece que não ocorreu infelizmente. Em frente. Faleceu ontem o escritor Moacir Scliar. Da vida, afinal, as pessoas nascem, crescem e morrem. O caso específico, porém, é um pouco mais abrangente, afinal, perdemos uma figura ímpar, um grande escritor aliado a uma grande pessoa, pelo que dizem. Li até hoje apenas uma obra de sua autoria há alguns anos. Um livro de ficção muito atento ao realismo, o que me leva a crer até hoje tratar-se de uma história baseada em fatos reais. Detalhe é que ele falava dele próprio enquanto fazia sua residência médica. Sim, para quem não sabe Moacir Scliar era médico. É mais um imortal que morreu sem deixar de viver, contudo, pois a sua obra, bem, essa será eterna.
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Eu pego a estrada todos os dias. De tanto fazer o caminho de São Chico, parando antes, no entanto, eu acabei deixando de ir a São Chico. Não suporto mais andar na mesma estrada todos os dias e então, quando chega o fim de semana, eu prefiro ficar em casa. Hoje pela manhã um fato fez com que eu interrompe-se meu trajeto rotineiro, não impediu que eu viesse, afinal, cá estou inclusive a escrever, mas esta tudo diferente, tudo mudado. O caminho parece ter tornado-se mais longo, massante e inoportuno. Parece que o carro gasta mais combustível para vir e eu hoje estou vendo o que ontem via como futuro, o passado. Enfim, cansei. Talvez este cansaço possa ser atenuado por um bom psiquiatra mas mesmo assim continuarei cansado. Isso porque acabou mais um ciclo da minha vida, assim como encerram-se relacionamentos, parcerias, amizades... O que eu tinha para fazer aqui eu já fiz. As horas e os Km que eu tinha para andar nesta estrada eu já andei e não quero andar mais. Está na hora de voltar pra casa e deixar esta estrada somente como rota de passeio a São Chico. Assim como era ontem e como deveria ser sempre.A estrada vai continuar no mesmo lugar sempre e eu, voltarei a vê-la somente como a estrada e nada mais.

Abraço e boa semana a todos.

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