terça-feira, 3 de outubro de 2017

O tocador da alma da gente

Nunca escondi de ninguém que a minha satisfação na música gaúcha é tocar fandango. Não interessa se é cansativo, se o retorno financeiro é pequeno e que o mercado está novamente povoado, embora os bailes estejam minguados (culpa da crise?). Eu sou um tocador de baile! Ou, como queiram, um cantador. E olha que já recebi propostas das mais varias, para migrar para o segmento de shows, mas não admito sequer pensar no assunto. Meu amigo Matheus Rechenmacher, o Puffi, que o diga!

Pois se eu posso chegar aqui hoje e contar da minha predileção, isso se dá em razão dos Irmãos Bertussi. Honeyde e Adelar.

Foi graças a eles que os bailes ganharam corpo e deixaram de ser simples "serenatas", sem menosprezar sua importância ou meras reuniões dançantes. Após excursões por São Paulo e Rio de Janeiro, bem sucedidas, os Irmãos Bertussi voltaram decididos a ganhar o Rio Grande, e assim o fizeram com garbo e galhardia.

Ninguém duvida que são os precursores do fandango porque foram eles que trouxeram a bateria para os bailes. A percussão, convenhamos, deu outro sentido a musica tocada, pois permitiu o som compassado e passou a dar "tranco" aos dançantes.

Honeyde nos deixou em 1996. Sábado, o último, o grande Adelar Bertussi resolveu encilhar o pingo e se bandiar para a querência do céu. Não tenho dúvidas que chegou dando um "Oh de Casa!" e o Patrão Velho abriu as portas do rancho para mais um fandango dos Irmãos Bertussi.

O grande Adelar Bertussi, de talento absurdo, bom humor e uma modéstia invejável. Diz um trecho de "Sanfoneiro Pachola":

"Me chamo Adelar Bertussi, cantador bom sanfoneiro, afamado no Rio Grande, também no Brasil inteiro."

Pois falou alguma inverdade? Claro que não!

Outras tantas composições falam do seu talento mas, o seu talento mesmo, foi saber falar das coisas do pago como poucos, encantar e sensibilizar a alma das pessoas. Um bom músico só pode assim se julgar quando tem o condão de tocar na alma das pessoas, muito além do seu instrumento ou das pregas de sua voz.

E nisso, senhoras e senhores, Adelar Bertussi não era bom, era ótimo!

Certa feita Adelar Bertussi tocou em Estância Velha. Num barracão de escola, haja vista que o CTG ainda não tinha estrutura própria. Foi a última vez que vi e ouvi Adelar Bertussi tocar ao vivo. Escutei e cantei "Oh de Casa!" muitas vezes, mas vendo ele abrir seu show com ela teve um significado especial. Me arrepio só de lembrar.

Nisso, Adelar Bertussi foi sempre diferenciado.

O grande Adelar Bertussi será sempre diferenciado.

Se foi o homem, mas sua história, sua música e seu trabalho pela cultura deste Pago e deste País existirá para sempre.

Adelar Bertussi e a música Bertussi não morrerão jamais!

Se foi o tocador da alma da gente!

Obrigado por tudo!

Com respeito e devoção, Ohhh de Casa.....

Nenhum comentário: