sexta-feira, 13 de março de 2009

Entre a razão e o coração

As pessoas tem o defeito de se apegar as coisas. Coisas neste caso, pessoas e objetos. Também não sei se isso é um defeito, mas certamente também não é uma qualidade. Agimos pelo impulso, por paixão compulsória, pelo desejo de ser e poder. Agimos por tantas coisas, afinal a vida é assim. Quando a gente ama, aí é que a bobeira toma conta, nada serve para contentar a pessoa amada. Esquecemos que, se de fato a outra parte possui o mesmo sentimento, qualquer coisa que façamos será o suficiente para deixa-la feliz, extremamente feliz por vezes. No entanto, num belo dia a ficha cai e nos enxergamos o quanto colocamos os pés pelas mãos, todo dia, todo tempo. Começa então uma busca desenfreada por um rumo, pelo verdadeiro sentido da vida e pela busca da felicidade. Será que o faço está certo? Eu sou feliz? Eu faço a outra pessoa feliz? Questionamento nos surgem diariamente tal como a necessidade de beber água para nossa sobrevivência: intermitente.
No mês de novembro do ano de dois mil e seis eu comprei o meu primeiro automóvel. Quatro meses antes começara a minha busca desenfreada para suprir o meu maior desejo desde os catorze anos: ter um carro. Muitos negócios começados e desfeitos, outros tantos nem começados. Até que no penúltimo mês daquele ano eu fechei negócio e comprei um Fusca “Itamar” ano 1995. Uma preciosidade, inteirinho, prata metálico, motor mil e seiscentos. Uma jóia rara de se ver. Confesso que no início das negociações meu pai era mais empolgado que eu. Aos poucos eu fui me familiarizando com a idéia, e nos momentos finais da negociação eu já estava numa afobação plena. Lembro como se fosse hoje o dia que saí dirigindo ele da loja (aliás, a primeira vez que o dirigi, pois só meu pai o tinha testado), manobrei-o e saí em direção a um posto de gasolina, após levei-o até a oficina para os primeiros atendimentos básicos (troca de óleo, pastilhas e fluído de freio, enfim, simploriedades). Era uma sexta-feira, semelhante a esta. Naquele dia só não tinha tantas nuvens.
A partir daquele momento, começou o meu apego ao carro. Cuidava-o, lavava-o, mimava-o. Deus me livre ter que coloca-lo em estrada de chão batido. Eu quase tinha um treco (hehehe). Com ele, fiz inúmeras viagens a São Chico e fui até pra Garopaba em Santa Catarina. E o Fuscão se comportou como um gigante em plena BR 101, um caos diariamente e transtornada pelas obras de duplicação. Enfim, não vou mentir: me apaixonei pelo carro. Corre o tempo. O mês é agosto de dois mil e oito. Pressionado pelo meu pai, tive que optar em continuar com o Fusca ou ficar com o carro dele que eu já tinha “comprado” de boca. Num breve pensamento, colocando no papel os pros e contras, resolvi ficar com o carro do meu pai. Levei o Fusca pra São Chico e coloquei numa garagem. Me enrolei até outubro pra leva-lo a uma revenda. Eu não queria vender. Infinitamente não queria. Queria deixa-lo na garagem, dar umas voltas de vez em quando, mas a situação não permitia isso. Depois disso, o dirigi somente mais uma vez.
O ano agora é dois mil e nove. Este corrente. O dia, treze de janeiro. Recebo uma ligação por volta das onze horas da manhã. Uma proposta oficial e definitiva pelo meu Fusca “Itamar” 1995, preciosidade, inteirinho, prata metálico, motor mil e seiscentos. Vendi. Nem tive tempo de me despedir, de me desculpar por estar fazendo aquilo. A única imposição que fiz foi no preço. Quem comprou certamente o cuidará por isso. Ele esta lá em São Chico, o vi duas vezes depois disso, mas não tenho coragem de chegar perto. Não mesmo.
Fiquei entre a razão e o coração, optando pela primeira. A vida é uma opção. Razão ou coração, certo ou errado. Há o meio termo, junção de ambos, contudo, raramente isso funciona. Não me arrependo da minha decisão, por mais saudade que eu sinta. A saber, eu dava qualquer coisa pra poder dar uma ultima volta no meu Fusca. Meu sim, sempre será. Pelo menos nas minhas lembranças. Sigo meu caminho, tomei a decisão correta. Coube a mim aceitar vende-lo. Cabe a mim viver e ser feliz. Só a mim e ninguém mais.
_Abraço em um bom final de semana a todos.

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