sexta-feira, 27 de março de 2009

O dia de Porto Alegre

No dia em que saí de casa, começando ali uma nova fase da minha vida, confesso a todos vocês que senti medo. Estava deixando o aconchego do lar familiar e assumindo uma posição de independência na minha vida. Não sabia se eu me adaptaria, como iria ocorrer isso este processo todo, além de tantos outros questionamentos que rondavam a minha cabeça. No dia onze de abril de 2006 eu mudei-me para a capital do nosso estado, Porto Alegre, devido a compromissos profissionais. Para quem vê de fora, uma cidade caótica, violenta, suja, desarrumada...Para quem vê de dentro, uma cidade aconchegante, com muitas histórias pra contar e indiscutivelmente única. Minha paixão por Porto Alegre começou naquele instante e desde então, nutro uma profunda admiração pela cidade. Só mesmo São Chico que ganha de Porto Alegre. Por força do destino, no final do ano de 2007 acabei retornando para casa, contudo, a vontade do voltar a morar na capital persiste dentro de mim e não hesitarei em retornar quando houver oportunidade.
Na manhã de hoje, lembrei-me do meu percurso diário, minha rotina de ida para o trabalho. Deixava o apartamento que morava na rua Getulio Vargas, no coração do bairro Menino Deus e seguia rumo a zona norte. Cruzava toda a extensão da Venâncio e vinte minutos depois estava no Hospital de Pronto Socorro, aguardando a linha 431 na parada de ônibus. Subia a Protásio, entrava na Carlos Gomes e descia na esquina com a Plínio. Atravessava em diagonal e chegava à Inspetoria de Porto Alegre para trabalhar. Que falta sinto do meu grande amigo Renatinho, das idéias do Amauri, das rabugices do Seu Gorga, das histórias do companheiro Tosi Filho, da brabeza da Carol e das loucuras da Rejane. Depois ainda surgiu a Fernandinha, muito querida. Enfim, sinto saudade dum tempo em que eu realmente era feliz e não sabia. Na volta pra casa, o caminho era similar. Dividia moradia com um grande amigo, meu irmão Duda. Sinto falta das nossas conversas que varavam a madrugada.
As quartas-feiras destinadas ao meu colorado no gigante, as rápidas passadas pela redenção e pelo parcão quando voltava de carona com o Renato. As idas ao Zaffari para comprar o lanche para o pessoal da inspetoria. As gravações na casa do Cesar e da Carlinha (um fraterno abraço pra este casal de amigos, únicos), subir a Dr. Flores quase duas horas da manhã em virtude disso. As andanças corridas pelo centro, os dias trabalhados na SMOV, local que de quintal do satanás virou um paraíso. As caminhadas pelo Menino Deus e as péssimas recordações das viagens de trensurb. Tudo isso paira na minha cabeça e me faz sentir saudade dum tempo que nem é tão distante, mas que me marcou de forma profunda para o resto da vida. Sentimentos que Porto Alegre transmite a todos que lá moram e a todos que a conhecem de verdade. Uma cidade que a cada dia se rejuvenesce, mesmo tendo duzentos e trinta e sete anos. Mais de dois século completados na data de ontem.
Vinte e seis de março, o dia de Porto Alegre. Feliz aniversário.

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No último sábado, vinte e um de março, um dos maiores intérpretes da nossa música estaria completando sessenta anos de idade: César Escouto, o César Passarinho. Uma figura ímpar, singular do nosso tradicionalismo e admirado por todos que puderam o conhecer pessoalmente. Pra quem não sabe, César Passarinho teve origem na música popular, no carnaval e no rock, contudo foi no gauchismo que ele se encontrou. Tanto que sua figura ficou imortalizada de bota, bombacha, lenço no pescoço e sua boina branca. Tive o privilégio de vê-lo de perto, participando de dois Ronco do Bugio, e deu para perceber que ele tinha o carinho e admiração de todos que estavam a sua volta. Nascido em Uruguaiana, morreu em Caxias do Sul (onde residia) no dia quatorze de maio de 1998. Uma perda lastimada, deste que fora sem dúvida, o último cantor romântico da nossa autêntica música gaúcha.
Como intérprete, ganhou duas vezes a Califórnia da Canção Nativa na sua terra natal, com as músicas: Negro da Gaita (1977) e o grande sucesso Guri (1983). Na sua voz ainda imortalizou musicas como: Arranchado, Cambichos, Mocito, Os Cardeais, Romanceiro da Erva Mate, Ultimo Grito, Um Pito e mais...

“César Passarinho abriu as asas poderosas e alçou o último vôo, mas sua imagem paira sobre nós até hoje como uma sombra benfareja.” Antonio Augusto Fangundes

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Fiquei realmente lisonjeado com o comentário feito neste blog pelo poeta, compositor, tradicionalista e patrício de São Chico, Léo Ribeiro. Uma figura impar dentro do nosso gauchismo, pois defende com precisão as coisas do Rio Grande através das suas palavras, sendo com poesia ou com letra de música. Admiro seu trabalho, não só na parceria com Os Tiranos, mas também com Gonzaga dos Reis, Zezinho, Rodrigo Lucena e outros. Destaque também para composições gravadas por Os Monarcas, tais como: Quem é da lida, Amor Campeiro e, do último disco, Aos Gaúchos do Amanhã. Sempre que estou por São Chico, também acompanho sua coluna no jornal Imprensa Popular.
Muito obrigado pelas palavras Léo. Certamente elas me dão ainda mais força para seguir firme nos cascos, defendendo o gauchismo e a música autêntica da nossa terra.


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Forte abraço e um bom final de semana a todos.

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