segunda-feira, 27 de abril de 2009

Pilar afetivo

Afeto ou afetividade. Estas duas palavras são as que eu mais escuto durante minhas aulas de direito de família. Sim, eu sou acadêmico de direito, acho que esqueci de mencionar isto no texto em que me apresentei. Segundo convicção dos doutrinadores atuais e do meu próprio professor, a relação de afeto é o norte principal da família dita contemporânea. A criança criada em um ambiente em que a afetividade seja-lhe propiciada de forma intensa, tende a ter uma concepção mais apurada do conceito de valores e a sua praticidade frente uma vida em sociedade. Eu, com todo o ceticismo que carrego comigo nesta minha vidinha pacata, não sou de toda certeza que o afeto é parte principal na criação dos filhos hoje em dia. Partindo deste pressuposto, estaríamos atestando que uma criança criada em orfanato, ou estabelecimento do gênero, estaria mais propensa ao mundo do crime do que a criança criada no seio familiar. Creio que esta posição não pode ser tratada como definitiva, pois o afeto não é parte principal na formação do caráter pessoal de cada indivíduo. Pessoas de caráter duvidoso, são frutos também de ambientes familiares onde o afeto é pilar principal na sustentação desta instituição.
Puxei pelo lado da família neste texto de hoje, pois nos últimos dias temos acompanhado sucessivas “tragédias” relacionadas a este ambiente. Aqui em Novo Hamburgo, uma mulher assassinou seu marido, sua irmã e sua sobrinha, supostamente por problemas financeiros e para “poupar” as pessoas que ela “amava” (mortos) das conseqüências relacionadas a isso. Em outras palavras, a mulher de certo queria poupar os assassinados da pobreza, como se isto fosse uma doença grave e irremediável. A defesa previamente já trabalha com a hipótese de que a ré confessa estava sob influência de abalo emocional forte. Rico, como se vê, quando comete um crime é porque está sob influência de abalo emocional, pobre quando comete um crime, ou é porque é maluco ou é porque já nasceu criminoso mesmo. Não vou entrar no mérito da defesa e nem fazer julgamento antecipado, contudo, é bom termos consciência de que há um intervalo de mais de vinte e quatro horas entre o assassinato do marido da ré e da sua irmã e sobrinha. Não haveria tempo para arrependimento? Na nossa capital houve algo trágico também, onde uma mãe acabou assassinando o próprio filho viciado em crack. Na ultima semana surgiram casos pelo Brasil, de pais que mataram os filhos por não suportarem viverem sem eles (casos em que os pais são separados e que a mãe supostamente impõe certas restrições de visita ao pai). Aí eu lhes pergunto: aonde é que vamos parar minha gente? Antes bandido matava inocente, agora pai e mãe também? Será que é a afetividade que está faltando no relacionamento familiar e interfamiliar das pessoas?
Creio que o processo todo está errado desde a sua origem. No Brasil, a educação nunca foi o principal foco dos nossos governantes. Se fosse, não haveria tanta corrupção e falta de qualidade entre os nossos políticos. Os casos ainda são isolados? Sim, mas como todos sabem, tapamos o buraco enquanto ele ainda é pequeno, pois depois de grande fica ainda mais difícil. O processo de formação de um indivíduo para convivência harmônica em sociedade passa sim pelos pilares afetivos que brotam do seio familiar, mas a educação e demonstração de caráter por parte dos pais aos filhos também devem caminhar em sentido unicamente igualitário. Sem dúvida, não há afeto que mascare a falta de ética moral e social de um indivíduo, portanto, é necessário sempre algo a mais.
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Abraço e uma boa semana a todos.

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