quinta-feira, 30 de abril de 2009

Causos do Tibúrcio...

Antes que os amigos digam e que os demais leitores falem que este blog virou um muro de lamentações das bancarrotas brasileiras e que ta faltando fundamento nas linhas traçadas nos textos deste que vos escreve, gostaria de salientar que realmente vocês têm toda razão caso achem por bem me criticar. Neste momento corro o olho pelo BLOG DO CAMPEIRO e não avisto em primeira mão o último texto gaudério que escrevi. Sim, falei sobre o Memorial Os Mirins há uns dias atrás, mas este teve um fundamento mais histórico-cultural do que gaudério. Assuntos no nosso meio tradicionalista surgem aos montes todos os dias, contudo até então nada havia me deixado matreiramente intrigado de forma que acabasse virando ponto de fundamentação e conseqüentemente diálogo para com os amigos que acabassem achando meu ponto de vista interessante. Acontece que no último final de semana aconteceu algo de certo ponto até inusitado, lastimável, e, sendo assim, encilho o pingo e “do-lhe” boca estrada fora, ou seja, me municio de argumentos e trago a tona o acontecimento.
Sábado, durante mais um ensaio do Grupo Fandangueiro, fui convencido pelos amigos Mauro e São Borja a chegar mais tarde às dependências do CTG Essência da Tradição em Novo Hamburgo, para fazer uma divulgação do grande fandango que faremos nesta instituição no mês de junho, em comemoração ao aniversário de nosso conjunto e lançamento do cd promocional do grupo (em breve, mais informações!). Confesso que titubiei no início, mas acabei cedendo pela situação que se fazia frente e fui. Quando cheguei, o baile no CTG já havia começado e eu lá fiquei acompanhando o desempenho do grupo responsável pela animação do evento, até que, chamado pelo patrão Vilmar, subi ao palco e fiz aquele tendéu todo (quem me conhece sabe como faço). Depois disso, correu-me que meus grandes amigos do grupo Tchê Moçada estavam animando um fandango no CTG Terra Nativa, algumas quadras de distância do Essência. Fiz o convite aos colegas do Grupo Fandangueiro que estavam comigo e “se bandiemo” pras dependências do Terra.
Confesso que não me recordo a hora que chegamos no baile animado pelo Tchê Moçada. Certo é que não era muito tarde, e ainda tinha bastante gente participando da festa. Cumprimentei os amigos e de cara fui saudado pelo grande gaiteiro Rodrigo Lucena, um dos maiores talentos que São Chico pariu e um amigo que conquistei nesta lida musiqueira. Acompanhava o baile até que o Maicão, vocalista da banda, chegou pra mim e disse: Não toquem mais a música Bailanta do Tibúrcio quando vocês fizerem fandango aqui, pois a patronagem não gostou e ameaçou de não contratar mais a gente. Eu de cara fiquei espantado, afinal qual era o problema da música? É por causa daquela parte: “E lá pela madrugada bem na hora do café, dom Tibúrcio mestre sala gritava batendo o pé, agora levanta os homens para comer as mulher”, respondeu ele. O Rodrigo, que nestas horas já tinha entregue a gaita pro Alan, esperou o encerramento da música que tocava e pediu licença a todos para uma “charla”, como bem disse ele. Lamentou o ocorrido, pediu desculpas e completou dizendo mais ou menos assim: O Tchê Moçada, apesar do Tchê no nome, se orgulha de ser autêntico e bem gaúcho, tendo como espelho o cerne da música fandangueira gaúcha que são Os Bertussi, Os Monarcas, Os Mirins e Os Serranos. A música Bailanta do Tibúrcio é um grande sucesso do cantor e compositor Pedro Ortaça, regravada com muita altivez por Os Serranos, e se, Pedro Ortaça e Os Serranos não nos servem mais de parâmetro para a nossa música atual, bom, eu depois de mais de quinze anos de baile não vou mais aprender o que realmente é certo. Rodrigo Lucena foi aplaudido calorosamente por todos. Após o fato, a patronagem do CTG Terra Nativa, logo se desculpou pelo ocorrido atestando que tal crítica partiu de um membro isolado, e que a sua posição não representava a opinião da entidade. Toda ou qualquer censura ao grupo Tchê Moçada não iria ocorrer e o respeito e admiração continuavam intactos.
Gente amiga, no sábado que passou acabei compreendendo o porque da maioria dos CTG’s estarem quebrados. A mentalidade de certos indivíduos que fazem parte destas instituições é o que contribui para a evasão de jovens e adultos também, do seio dos nossos centros de tradições gaúchas. É preciso acabar com a idéia de circulo fechado que existe neste nosso meio. É inadmissível barrar uma música de um ícone do nosso regionalismo (confesso que não sou fã do Pedro Ortaça, mas reconheço e admiro sua importância para nossa cultura), uma pessoa focada nas verdadeiras coisas deste nosso chão, preocupado em transmitir ao seu público a pura essência do nosso gauchismo, tendo que deixa-lo de fora da fonte de inspiração para os demais que estão aí tentando fazer o bem para o Rio Grande por causa da interpretação distorcida do conteúdo de uma letra. A evolução faz parte do ser humano e com o tradicionalismo não pode ser diferente. O foco de preocupação deve ser o modismo das culturas sem autenticidade regional. Deixar de cantar a Bailanta do Tibúrcio nos CTG’s será aceitar que o nosso tradicionalismo caminha para a extinção, uma vez que a intolerância sempre foi ponto de partida para as sangrias que abateram à sociedade ao longo de sua existência.
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Forte abraço e um bom feriado a todos.

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