segunda-feira, 12 de abril de 2010

Da inércia

Polêmica a vista certamente, foi o pensamento que tive quando surgiu-me a idéia de falar dos tórridos acontecimentos naturais no estado do Rio de Janeiro. Falo em acontecimento natural, ainda que, sob minha ótica a mão humana é tão responsável quanto a natureza neste triste episódio todo. Friso também que, para mim o poder público é o principal culpado dentro desta parcela humana. Há, no entanto, quem discorda da minha pessoa e afim de manter e ampliar a democratização que sempre procurei impor na conceituação deste blog, volto a tratar deste tema sob um novo ponto de vista no que tange a participação humana no processo. Há sim, acreditem, quem ainda crê que o poder público não é o único culpado. Que a sociedade de uma forma geral tem uma parcela de culpa significativa uma vez que é ela quem elege os que lá estão desempenhando a chefia do poder. Neste conceito de sociedade, acabo por lembrar-me que também estou incluído, que você também está e que, enfim, todos nós estamos. Assim sendo, ouso a definir que sob esta ótica eu sou um dos culpados pela aquela gente ter invadido uma área que outrora fora um depósito de lixo em Niterói/RJ, construído casas e estar vivendo lá até o dia em que tudo veio abaixo em face a um desmoronamento de terra de grande proporção. Eu sou culpado? Você amigo leitor é o culpado? Afinal, quem é o culpado? E será mesmo que há um verdadeiro culpado? Em suma, como relatei a um tempo atrás aqui mesmo, o mundo é feito de muitas perguntas e poucas respostas. Fazer o que?
Claro que eu generalizando a conceituação de sociedade tenho que incluir-me também dentro dela. Agora, se eu pontuar para a geografia do Rio de Janeiro talvez eu possa, então, delimitar e enxergar melhor esta lógica do pensamento adverso. O que posso fazer, também, é transcrever alguns problemas da nossa sociedade, coisas aqui do pago mesmo. Aí é provável que verei sob a mesma luz do pensamento distinto. Ao traçar estas analogias diria que sim, é mesmo possível dizer que a sociedade têm uma parcela de culpa nos acontecimentos do Rio na última semana. Além de ser proveniente de sua soberania a eleição dos que lá estão a conduzir e chefiar o poder público, a inércia de muitos contribuiu para que as pessoas invadissem a área do lixão e construíssem casas em cima. Como assim? Explico. Ora, se um ou mais vizinhos da área tivessem reclamado junto a prefeitura ou ao Ministério Público quando as invasões deram-se início, é bem provável que a tragédia a esta altura tivesse diminutas proporções. Se os moradores de morros e encostas sob risco se unissem de forma cooperativada, é sim bem possível batalhar para uma solução única que beneficie o conjunto.
Na verdade, somos um povo acomodado. Cansamos de lutar, ou as experiências na peleia não nos favorecem. Na nossa rotina, o que vale é a máxima do “time que está ganhando não se mexe”. E assim, a vida vai se levando sem muitos objetivos e sem nenhuma perspicácia de melhora real. As benfeitorias são mascaradas. Por fim, devo admitir que mudei de opinião em partes, e devo admitir também que a sociedade tem sim, sua parcela de culpa, não na existência dos desastres naturais, mas nas suas conseqüências. Deveríamos considerar a inércia como um desastre natural. Talvez, a inércia seja mesmo um desastre, mas social. Sei que em ano de eleição é fácil vir aqui e falar para votar em alguém que seja diferente dos que aí estão. Sei também que a história tem nos mostrado que a raça de político é praticamente a mesma mudando apenas a cor da bandeira partidária. Agora, se com base nesta realidade eu perder de toda a esperança, bom, aí eu realmente devo me mudar para outro lugar, outro país. Ninguém aqui pediu para ser brasileiro, mas já que somos, devemos levar ao pé da letra o discurso mais animador de nosso povo: Sou brasileiro e não desisto nunca!
_
Abraço e boa semana a todos.

Nenhum comentário: