sexta-feira, 9 de abril de 2010

Fundamento

Os grandes e celebres momentos dos nossos festivais de música campeira e nativista se foram, no entanto, os órfãos admiradores desta rica cultura em forma de música simples e pura seguiram vivos e vêm propagando seu conhecimentos, afim de, não se deixar morrer a figura do festival que canta as coisas do nosso Rio Grande. Não sei se posso falar em crise existencial, mas de fato, o que acontece é que um festival hoje em dia não se faz por si só, depende da boa vontade do poder público municipal, estadual e até mesmo federal. O primeiro, geralmente realizando o mesmo e os outros dois patrocinando sob a forma da LIC – Lei de Incentivo a Cultura. Vejam só que contradição: ora, se é sabido de todos que a cultura juntamente com a educação são o carro chefe para o desenvolvimento do nosso povo, devia ser cláusula pétrea delegarmos isso como parte da nossa vida, sem precisar de Lei alguma de incentivo. Há, porém, uma justificativa lógica de que as disparidades sociais existentes no nosso país, impedem a ampliação cultural tupiniquim. Impedem que a cultura sente-se junto a mesa do brasileiro. Creio, no entanto, que a questão é bem mais abrangente do que a simples falta de poder aquisitivo. Há muita falta de vontade deste poder público as vezes, bem como de nós, povo, que muitas vezes relegamos as nossas origens ao secundarismo frente os adventos momentâneos da dita moda tão propagada. No gauchismo não tem modismo. Não gauchismo tem história, legado e tradição. No gauchismo há os nossos festivais que não morrem. Não pelo menos enquanto houver gaúchos de fina estirpe disposto a defender este nosso pago nativo.
Nesta última terça-feira, seis de deste corrente mês, tive a oportunidade de falar pessoalmente com o Secretário de Turismo do município de São Francisco de Paula, Sr. Sidi França, que confirmou-me a realização da 19ª edição do Ronco do Bugio, um dos festivais mais celebres da história deste Estado. O evento ocorrerá nos dias 28,29 e 30 de maio junto a programação da 14ª edição da Festa do Pinhão que será realizada este ano novamente nas dependências do Parque Davenir Peixoto Gomes, a popular “Balança”. Agora, no entanto, não houve processo classificatório, uma vez que, foi privilegiado os classificados no processo do ano passado. Em face do advento da Gripe A, acabou por não ser realizado o festival no passado ano e, assim, temos agora, na verdade, a seqüência do processo iniciado no ano de 2009. Além das músicas concorrentes, destaca-se o show de abertura com Cesar Oliveira & Rogério Melo e o baile do sábado com Os Tiranos, cria da terra, e com uma qualidade reconhecida pelo meio fandangueiro. Falando em fandango, não há como esquecer dos celebres bailes ocorridos com o Ronco do Bugio. Os Serranos, Os Mirins, Grupo Rodeio e outros tantos. Em uma das edições, tivemos Os Serranos e Os Mirins dividindo o palco num meio a meio de tirar o fôlego e de entrar para a história. História esta que começou no ano de 1986 debaixo de um lonão onde hoje está localizado o ginásio municipal de esportes. Edson Dutra, lider de Os Serranos, foi o idealizador do festival, que, felizmente fora abraçado pelo poder público municipal e por toda a comunidade serrana expandindo-se, aí então, a todos os cantos deste nosso Rio Grande e até de Santa Catarina e Paraná.
Falar de Ronco do Bugio é falar de um festival com “Fundamento”. E é por ter fundamento gaudério corrento no sangue das minhas veias é que falo com conceito e propriedade da importância de todos os festivais para o desenvolvimento cultural do nosso Rio Grande. Valorizar o que nosso é saber glorificar os pilares da nossa identidade, saber reconhecer os que empunharam adagas na luta pelo nosso povo, saber dar conceito para o verdadeiro Ser Gaúcho. Como conseqüência lastimável do desenvolvimento de nossa sociedade, perdemos o poder e a sensibilidade de cultuar o que é do pago, nossas origens e nosso legado. Que os gaúchos e gaúchas engajados nunca percam este espírito lutador de colocar a bandeira do Rio Grande no ponto mais alto destas glórias que a história nos trás. E que brote a certeza na alma destes “Taitas”, de que, quem vive nas gaitas, não morre jamais.
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Forte Abraço e um bom final de semana a todos.

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