segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Pelego

Neste último sábado conversando com um amigo tradicionalista, daqueles que realmente conhecem o gauchismo e não ficam por aí se achando o tal sem saber coisa alguma, e ele me disse que entrou em uma loja de artigos gauchescos e pasmem, para sua surpresa, estavam ofertando um pelego cor de rosa. Tinha um xadrez também. Ora, meus caros e minhas caras, não me recordo de já ter visto uma ovelha cor de rosa ou xadrez pastando pelos nossos campos. Pelego com um leve tom de laranja eu até já vi e é característico de uma raça, agora cor de rosa... Realmente a situação parece estar indo ladeira abaixo. Nossos CTG’s da região cada vez mais deficientes, empobrecidos e esvaziados. Os grupos de baile, reféns desta situação, também estão cada vez mais escassos. Hoje é impossível viver da música por aqui. Talvez dê para viver em Santa Catarina e Paraná, mas não aqui. No mesmo sábado ouvi dizer que já está se criando tradicional acampamento farroupilha na capital. Um mês de evento. Mas e o resto do ano? E os outros doze meses? É, pelo jeito que a coisa anda indo, não é de se surpreender tanto assim com um pelego cor de rosa, ou tingido de qualquer outra cor berrante. Berrante, aliás, deveria estar o MTG que muito late mais não morde. Pelego cor de rosa? Foi pra isso que o Presidente Bento Gonçalves da Silva peleou por mais de dez anos?
Até hoje, um dos textos mais acessados e comentados aqui do Blog do Campeiro foi o que levantei o debate acerca da bombacha feminina. Na época critiquei. Diga-se de passagem, continuo com o mesmo pensamento. No entanto, essa história de pelego personalizado foi uma surpresa tão grande que pensei inclusive em não escrever o texto para hoje. Iria deixar para amanhã ou quarta-feira, tamanha a minha perplexidade com a situação. Este Campeiro que vos escreve é um defensor assumido da evolução do tradicionalismo, face das circunstâncias da nossa sociedade atual. Isso não quer dizer, contudo, que aceito este modismo absurdo a qual estamos sendo expostos. Uma coisa é adaptar a realidade do campo ou da cidade em prol do nosso tradicionalismo, outra bem diferente é aceitar este tipo de coisa. Aonde foi parar o respeito pelo lenço do nosso pescoço e pela nossa bombacha? Que rumo vai tomar a nossa tradição que há muito foi esquecida pela nossa sociedade e, inclusive, pelo tal de MTG? Digo isso porque o tradicionalismo que estão praticando em alguns CTG’s por aí, em nada correspondem com os valores do gauchismo, mas sim, do interesse de uma meia dúzia. Eu já vi bastante coisa nesta vida, ainda que não tenha vivido tanto assim. Mas saber que lojas de artigos gauchescos já estão vendendo pelego cor de rosa eu não sei se quero ver. Afinal, para onde vamos?
Anualmente no mês de setembro, se não estou enganado, ocorre a cavalgada das prendas lá em São Chico. Algumas se portam de vestido de prenda, outras de bombacha mesmo agora, pelego cor de rosa, verde limão, xadrez ou qualquer outro da espécie não há. Por lá se respeita a tradição acima de tudo. Quem me vê andando pela rua diariamente as vezes não acredita que me chamam de Campeiro. Os compromissos do dia a dia infelizmente não permitem que eu ande de bota e bombacha dia sim e outro também. Agora, num não me lembro de ido alguma vez na vida em um baile de CTG sem bota e bombacha. Nem nas terças da Lomba quando ia direito do trabalho. É uma questão de respeito ao que é nosso senhoras e senhores. Mas do jeito que a coisa anda, qualquer dia destes o povo abandona o campo, troca o cavalo por uma motocicleta e aí, inevitavelmente, deixa a vida de fora. Não sem antes dobrar um pelego de cor pura e abandonar no fundo de um galpão. Levanta Rio Grande e salvai os teus pelegos!
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Até de bicicleta Damião?

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Abraço e boa semana a todos.

Um comentário:

Anônimo disse...

Pelegos tingidos de vermelho ou laranja eram bem comuns antigamente. Já o rosa, xadrez a afins, não.