sexta-feira, 4 de maio de 2012

Cultura, acima de tudo

Nos dias atuais, mais de uma vez tive que explicar o motivo pelo qual tenho gosto pela tradição. Não há mais um orgulho aberto àquilo que é da gente. Pelo que tenho visto, é bem mais moderno copiar, imitar e vangloriar o “estrangeiro”, a valorizar o que é nosso. Não culpo ninguém por isso e esse texto também não terá a pretensão de buscar os culpados. Tudo é reflexo desta evolução (ou involução?) da nossa sociedade e não há como rotular esse ou aquele. Não sei da onde veio esta minha vocação tradicionalista. O falecido “Seu Netto”, meu avô, vivia de bombacha, um gauchão de pura cepa, de simplicidade. Vai ver é daí o meu gosto. Nunca escondi isso de ninguém e me orgulho de vestir uma bombacha e sair por aí. Já andei pelos corredores da Unisinos e do shopping pilchado e, ainda que tenha percebido olhares de espanto, os de admiração se sobrepuseram. Lá no fundo, sei que o gaúcho sabe e valoriza a sua origem. É por isso que nunca perderei a esperança.

Mas ela balança às vezes. Nesta madrugada a música brasileira perdeu Tinoco. Juntamente com seu irmão Tonico, falecido em 1994, Tinoco dedicou 60 dos seus 91 anos para o canto puro e simples, caipira, do interior. Sei que o Tinoco não era tradicionalista gaúcho, mas era do Brasil. Cantava e compunha as coisas simples da terra, o amor sem pornografia, sem apelação. Enfim, era uma música que era bela por sua simplicidade. Refletindo hoje pela manhã, com o advento de sua morte, humildemente estou aqui para dizer que, de fato, o tal sertanejo universitário beira à simploriedade. Sei que nunca defendi este “novo gênero”. No máximo tratei de respeitar a condição de músico do Michel Teló (afinal ele é músico mesmo, com raízes pretéritas ligadas ao gauchismo, inclusive). Também não há quem possa dizer que algum dia defendi os grupos “Tchês”. O que defendi e defendo é que não cabe a ninguém julgar o caminho que tomaram, nem negar a mão quando um filho desgarrado quer voltar para casa.

Enfim, o que temos hoje é uma condição efêmera. O sucesso de hoje é inexistente amanhã. Quem manda é a mídia e o dinheiro. Dizem que o grande Tinoco morreu na miséria, tendo que fazer bicos e shows até em circo, mesmo nonagenário, para sobreviver. Senhores e senhoras, isso é lamentável e vergonhoso (para nós brasileiros, é claro)! Esse cidadão que faleceu essa madrugada era o integrante da dupla sertaneja mais importante da história deste país. Do sertanejo verdadeiro, de raiz e com fundamento. A dupla Tonico e Tinoco vendeu mais de 150 milhões de discos. Vocês sabem o que isso significa? Por essas e outras que no palco sempre enalteci Teixerinha, José Mendes, Irmão Bertussi, Luiz Menezes, José Cláudio Machado, Os Mirins, Os Monarcas, Os Serranos e tantos outros. Não é só valorizar o que é meu e o que é da terra, mas sim, é valorizar a cultura e o nosso desenvolvimento como povo a partir daí. Que o Brasil aprenda, por aqui, a dar valor para aquilo que é seu e para o que realmente importa. Acima de tudo, cultura!

Vá em paz Tinoco. Muito obrigado!

Abraço a todos.

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