terça-feira, 15 de julho de 2014

Deus e o diabo na terra

Pois tive a sorte de ler dias desses, num jornal da Capital, uma entrevista com o escritor Laurentino Gomes, autor da trilogia 1808, 1822 e 1889, que pode ser considerada best seller para os padrões brasileireiros, visto que já vendera mais de 2 milhões de exemplares. Pois a certa altura da entrevista, Gomes fala que nós brasileiros herdamos do nosso colonizador, Portugal, o sebastianismo, ou seja, vivemos da ilusória esperança que surgirá um salvador da pátria que irá corrigir os rumos do país e nos transformar numa potência de primeiro mundo. Pois aí, logo lembrei da novela  " O Salvador da Pátria", que tinha como personagem principal o saudoso Sassá Mutema, numa das tantas brilhantes interpretações de Lima Duarte.

Antes que alguém diga que estou me contradizendo, falando em novela, digo que o que não gosto é de novela ruim, tais como estas que se empilham ano após ano, mas muita novela assisti, tal qual Roque Santeiro, Irmãos Coragem e a minha preferida, o Rei do Gado. Retomando o assunto, como bem disse o autor supra citado, esperamos a chegada do messias, aquele que será capaz de nos tirar do purgatória e nos conduzir ao paraíso. Na novela, Sassá Mutema ganhou popularidade e deixou de ser um bóia-fria para se tornar o prefeito da cidade de Tangará (socorri-me ao wikipédia, pois não sou tão noveleiro ao ponto de lembrar o nome do local onde se desenvolve o enredo). Já não recordo com facilidade do final da novela, mas lembro que o personagem encerrou como começou: um trabalhador.

Com o passar do tempo, passamos a ser mais condescendentes com os governos e nos empolgamos, muitas vezes, com coisas que são pequenas, como uma obra pública aqui ou ali, quando na verdade isso é apenas uma obrigação dum Estado recolhedor de impostos. Noutra monta, direcionamos ao mesmo Estado uma obrigação que nem nós mesmo cumprimos. Nesse ponto, transcrevo um trecho da referida entrevista: 

"Agora, também está muito claro que a construção do Brasil dos nossos sonhos vai demorar mais do que a gente imagina, porque envolve mudanças de natureza cultural. Eu diria que jamais você vai ter em Brasília um Estado muito mais ou muito menos corrupto e ineficiente do que a média da sociedade brasileira. O que está em Brasília é a média do que somos. Se quisermos ter um Estado melhor do que temos, teremos que qualificar a sociedade pela educação e cultura".

Pois aí está o ponto nevrálgico deste meu texto de hoje. O entrevistado, um escritor que vendeu mais de 2 milhões de livros no Brasil, diz com todas as letras que precisamos qualificar a sociedade através da cultura e da educação. Hoje me atenho mais a questão da educação. Pois saibam, meus nobres leitores e leitoras, que soube esta semana que findou, que o tal do exame do ENEM suprime a necessidade de que o ensino médio, de forma regular, seja realizado. Exemplificando: o seu filho termina o ensino fundamental, faz a prova do ENEM e é aprovado (o que não é nada difícil, aliás) e está dispensado de continuar estudando. Ao menos me disseram que é assim que acontece.

Pois queira Deus que eu esteja errado ou tenha ouvido mal. Não posso acreditar que ao invés de fomentar a educação, nossos governantes estão suprimindo etapas, criando um país de alijados. Sim, alijados. Quantos destes que se beneficiam por esta blasfêmia irão para uma universidade? Quais universidades brasileiras aceitam receber alunos antes dos 17 anos?

Certa feita lembro que escrevi por aqui que ganha meu voto aquele candidato que disse que sua principal bandeira política é a educação. Pois, bem, por uma questão de compromisso ético com minha consciência, não posso votar em quem trata a educação com tamanho desprezo. Quem não educa um filho seu é porque faz da sua ignorância uma forma de manipulação. E este que vos escreve, não coaduna com este tipo de atitude.

Pois hoje encerro com versos de Moraes Moreira, na musica Santa Fé, tema de abertura de "Roque Santeiro" outro grande sucesso das novelas brasileiras:

"Ba ba ba ba bateu, bateu meu coração

Minha cabeça en-lou-que-ceu
Ta ta ta ta ta também tocou

Falou pro nosso amor falou e de-sa-pa-re-ceu
E Deus?

Deus e o Diabo na Terra
Sem guarda-chuva, sem bandeira, bem ou mal

Ninguém destrói essa guerra

Plantando brisa e colhendo vendaval
Não sou nenhum São Tomé no que eu não vejo

Eu ainda levo fé
Eu quero a felicidade

Mas a tristeza anda pegando no meu pé
Tem gente falando com a lua, gente chorando na praça

Menino querendo rango, nego bebendo cachaça
E a cada minuto que passa tem muita gente chegando

Tem muita gente pagando pra ver



Abraço e boa semana a todos.

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