sexta-feira, 18 de julho de 2014

Os músicos fandangueiros

Algumas vezes já abordei por aqui assunto referente ao futuro de nosso tradicionalismo. Resolvi voltar a abordar o tema, depois que um velho amigo, em uma conversa sobre a nossa música gaúcha, lascou a seguinte afirmativa: "se continuar assim, com estas frescuras do MTG, em 20 anos não vai ter mai nada. Não tem mais baile para tocar". De início, confesso-lhes que contemporizei um pouco, achando que o mesmo estava exagerando. Passado alguns dias, todavia, fiquei matutando tal afirmativa, bem como passei a prestar atenção nas programações de CTG's da região e, ao fim e ao cabo, tendo a concordar, em parte, com este meu amigo.

Sem adentrar muito na seara da responsabilidade do MTG, embora esta seja contumaz, passei a me preocupar quando vi que um CTG da região esta abrindo o leque nos bailes, trazendo bandas que não são reconhecidas como por tocar música gaúcha autêntica. Ora, se o Centro de Tradição Gaúcha não privilegia seus pares, contratando grupos de fandango para animar suas promoções, quem o fará? Não serão os bailões, certamente!

Recordo-me, que muitos CTG's tinham noites tradicionais, quando realizavam suas penhas, hoje reconhecidas como tertúlias. Por aqui, além das terças da Lomba Grande, as sextas do Terra Nativa e também do Essência da Tradição. Em São Leopoldo, as tradicionais domingueiras do velho Estância da Amizade. Pois aqui, permitam-me fazer um aparte, já que a coisa é ainda mais grave. Soube esses dias que a sede do Estância da Amizade, localizada num bairro considerado nobre em São Leopoldo, vai à leilão por causa de uma dívida de pouco mais de R$ 20.000,00 (vinte mil reais); não que o CTG não tenha de cumprir suas obrigações, mas deixar chegar a este ponto é realmente o fim dos tempos, sinal que nossos CTG's estão definhando, ladeira abaixo.

Como esperar que os conjuntos sobrevivam então, se sequer os CTG's conseguem manter suas portas abertas? Ademais, problemas de administração equivocada também contribuem para o desfalecimento dos nossos galpões. E em paralelo, já não se encontram mais tantos apaixonados pela tradição a ponto de trabalharem de graça para a promoção dos eventos nos CTG's. Sim, porque por muito tempo todos que lá estavam trabalhavam pelo amor, sem receber nenhum vintém. Quando as cozinheiras passaram a ficar escassas e os CTG's tiveram de começar a pagar por serviços do gênero, as penhas e tertúlias começaram a ficar restritas ao baile mensal, que muita entidade sequer consegue mais fazer.

Nesse meio de tudo isso, presos pelo pincel, os conjuntos musicais, que para apresentarem espetáculos que agradem totalmente o público, têm de fazer investimentos altíssimos, em troca de cachês que muitas vezes sequer cobram os custos de "sair de casa". Por situações do tipo é que cada vez menos temos pessoas sujeitas a viver da música. Quantos talentos conheço que teriam condições de fazer só isso e se desiludiram no meio do caminho...

Dessa forma, não há dúvida que o caminho daqui para frente é tortuoso, com um tempo de nuvens carregadas. Quem sabe no fim, entre mortos e feridos, restem apenas os amantes da música, aqueles que persistem pelo amor ou hobby, mas não pelo dinheiro. Assim caminhamos para o fim da profissão do músico, ao menos o gaúcho, tocador de fandango. Uma lástima! Uma lástima!


Abraço e bom final de semana a todos.

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