Sentei na mesa do bar, a saber a mesma
de sempre, e antes mesmo do garçom rumar para trás do
balcão para me preparar “o de sempre”, tratei de
persuadi-lo a vir até mim – o que o fez – ainda que meio
contragosto. Como se não me conhecesse, foi irônico ao
me indagar: “pois não senhor?!”. Em seguida, já me
perguntava das contratações do Inter, do que achava do
time co-irmão e tal. Antes mesmo que se encorajasse em falar
de seleção, fui logo dizendo – num só tiro e
de forma certeira: me traz um expresso duplo!
Notei que aquilo soou como um
apunhalada para o lépido garçom que, fatalmente, se
perguntou: mas ele não tomava sempre um simples, com aquela
espuma á base do bafo quente da velha e competente máquina
de café? De fato, e com razão à estranheza que
causei ao jovem atendente da cafeteria, eu sempre tomava um expresso
simples, com aquela espuma clara, à base do vapor da velha
máquina de café. Gize-se, velha mas flor de especial –
mas que café, tchê! Mas se a vida é feita de
mudança, por que nossos gostos também não podem
mudar um dia?
Sorvi aquele expresso duplo de forma
suave e com o intento de de degustar cada gole do seu sabor amargo.
Sim, café eu bebo sem açúcar. Confesso-lhes que
inicialmente mal senti diferença no gosto da bebida. Com a
chegada na metade da xícara, todavia, já podia sentir
meu paladar acostumado com um sabor diferente, forte, de amargor
suave e intenso. Bem melhor que as experiência experimentadas
com um simples expresso? Não diria melhor, mas diferente. E
aqui a diferença não está relacionada somente ao
tipo do pedido, mas principalmente a capacidade e a coragem da
mudança. Mudar, em que pese seja uma atitude difícil de
ser tomada, muitas vezes significa renovar, rejuvenescer e, muitas
vezes, enfim alcançar o velho e tão sonhado objetivo.
Quando finalmente tomei coragem e pedi
um expresso duplo, contrariando e até mesmo assustando o
simpático e já amigo garçom, não dei-me
por conta de que a virada do ano, guardadas devidas proporções,
pode ser comparada a minha atitude, sendo o expresso duplo o ano que
chega e o expresso simples o ano que se vai. No início vamos
achar que tudo continua como estava antes. Depois, com o passar dos
meses, damo-nos conta de que as mudanças podem ser sim reais,
basta querermos. Sei que aquele dia em que sentei à mesa da
cafeteria estava disposto a dar um novo sentido à minha vida.
Dar novo sentido a vida com um café? Sim! O contexto todo não
está no café, mas sim na ideia de que nós
podemos sim mudar um dia, experimentar outras alternativas, afinal, o
cardápio nos proporciona várias opções.
Já estou me preparando para um
capuccino e para um 2013 diferente daquilo que tenho vivido nos
últimos tempos. Sei que vou enlouquecer o amigo garçom
e muita gente à minha volta. Mas e daí, quem sabe da
minha vida sou eu mesmo e, então, vou tratar de vivê-la
e aproveitá-la.
Expresso duplo? Recomendo!
Forte abraço e um bom começo
de ano a todos.
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