terça-feira, 3 de março de 2015

É duro o golpe.

Há quem diga que o movimento que busca o impeachment da Presidente da República é golpe orquestrado pela direita, que não se conforma por ter perdido nas urnas a eleição. Por óbvio que as alegações partem de militantes, partidários e simpatizantes do governo que aí está. Eis as benesses de se viver num país democrático, ainda que acusações são maneiras escusas de demonstrar a liberdade de expressão. Digo isso em ambos os sentidos; ou seja, não defendo os que amparam o governo ou os que buscam o impedimento da atual mandatária do país. Aliás, não entendo esta preocupação dos líderes do PT com este manifesto democrático, afinal, sabemos que a pressão popular - por si só - não basta para derrubar um governo (afora pelo voto, tão mais fácil e tão pouco compreendido pelo povo brasileiro). Não creio que Dilma cairá. Não creio que a acensão do Vice suplantará os problemas do país. Sou um incrédulo, pois.

O Partido dos Trabalhadores deveria se preocupar com a origem das manifestações: pasmem, os trabalhadores. Os caminhoneiros têm puxado a fila. Os agricultores têm vindo logo atrás. Ou seja, pessoas simples em meio à sociedade têm erguido a voz para os desmandos governamentais. Quer dizer que metem a mão no dinheiro da Petrobrás e aumentam o preço do combustível para o povo? Quer dizer que o governo gasta mais que, o já muito que arrecada, e aumentam a conta de luz para o povo? Quer dizer que o partido feito pelos trabalhadores, quando governo, suprime direitos trabalhistas dos seus? É duro o golpe. Para ambos os lado; explico.

Para o governo, que vê pessoas simples reclamando o seu quinhão. Não é a direita golpista que vem puxando a fila das manifestações, mas sim, os trabalhadores. É navalha na própria carne. São aqueles que fomentam a economia do país, e não os patrões, que tem tentado parar o país e mostrar que tá difícil pôr o pão de cada dia na mesa. E como está difícil. Com isso, a meu modesto ver, o governo têm de se preocupar. Quando é a direita que late, parece um ônibus sem freio: faz estrago, mas muitos se salvam. Quando é o povão que vai para a rua, por sua conta e risco, assemelha-se a um trem desgovernado prestes a descarrilar que surge no horizonte. São inimagináveis as consequências.

Para o povo também é duro o golpe. Vejamos que o o partido governante, dito dos trabalhadores, resolveu sair da trincheira sob amparo de força policial. Sim, estão prendendo os trabalhadores que ousam discordar das posições governistas e fazem aquilo que tanto abominaram quando da ditadura: calam as vozes de anseio popular. Lamento, mas se a justificativa é garantir o direito de todos, como acesso à comida e combustíveis, digo que prefiro ficar com fome e andando a pé. Lutou-se tanto para alcançarmos a democracia para prendermos trabalhadores manifestantes? É... realmente é duro o golpe.

Mas, afinal, quem é o golpista?

No último texto que escrevi, fui premiado por mais um lúcido comentário do meu amigo Aristeu Nunes, pai do Rodrigão. Sugeriu ele que talvez não estivéssemos prontos para a democracia e, por consequência, à escolha do Presidente. Concordo e digo mais: creio que a classe política que hoje aí está, é que não soube se preparar, durante a ditadura, para conduzir o país em um ambiente livre e democrático. Como dita o provérbio, quem nunca comeu mel, quando come, se lambuza.

Abraço e boa semana a todos. 


PS.: Acabo de ser atordoado pela notícia do falecimento do cantor José Rico, dupla de Milionário. Uma das maiores (senão a maior) vozes da música popular brasileira. A "garganta de ouro" como muitos gostam de chamar. Grande perda para o cancioneiro brasileiro. Que descanse em  paz!

Um comentário:

Anônimo disse...

Eu penso que ela cai, os primeiros vagões já começaram a se formar, basta sabermos o número que essa locomotiva irá se compor e depois esperar pra ver o estrago que irá fazer desgovernada. Quanto a liberdade de expressão, fica complicado pois sou do tempo que quem acusa e que tem que provar primeiro para só depois o acusado se defender.
Abraço.
Aristeu