terça-feira, 14 de abril de 2015

Gentileza.

Sinto falta de sair caminhando pelas ruas, as vezes. Não ando somente de carro porque gosto, andaria mais a pé, sem problema algum. Pelas minhas passadas largas conheci muitos lugares e já não esqueço mais o caminho de volta. Guiando um veículo sequer podemos olhar para os lados, na maioria das vezes; ou sempre. Pois na semana que passou foi o aniversário de Novo Hamburgo: cinco de abril. Não vi qualquer movimentação da municipalidade ou mesmo da comunidade sobre qualquer festejo da data. Não precisava de festa, na verdade, mas se podia prestar uma homenagem à cidade. Ahh mas era domingo... Como no Brasil a promiscuidade impera, meu Deus! 
Ouso dizer que muita gente passa na rua 5 de abril, região central da cidade, e sequer sabe o por quê(?) do seu nome. Hoje, Novo Hamburgo é um cidade de passagem, mas, nem sempre foi assim.

Cheguei em Novo Hamburgo em agosto de 1996; quase dezenove anos, portanto. Havia um romantismo, à sua maneira, na cidade. Muitas velhas casas inspiradas na arquitetura alemã, muitas velhas empresas que ergueram a cidade economicamente e gente que se orgulhava da cidade. Inicialmente morei num edifício antigo na esquina das ruas Aloísio Azevedo e Luiz de Camões. Era pintado dum rosa horroroso, mas que facilitava muito na hora de localizar alguém. Na frente, uma velha casa de madeira. Na diagonal, resistia ainda a velha "Bebidas Cassel". A rua era uma das mais movimentadas do bairro Vila Nova. Na Luiz de Camões, a poucos metros donde eu morava, um terrenão baldio que, pouco tempo depois, virou um campo de futebol moldado por nós mesmos, a gurizada do bairro que se reunia na mureta do meu prédio. Pois nunca mais sequer enxerguei um dos velhos amigos por aí.

O prédio hoje nem tem mais o velho rosa; também não melhorou muito, com um bege do tipo "burro quando foge". Na frente, a velha casa de madeira deu lugar a um novo edifício, mesmo destino do nosso campo de futebol. A "Bebidas Cassel" transformou-se em outras tantas empresas divididas em sua enorme estrutura. Mas, bebida, não se engarrafa mais ali. Muitas vezes parava para ver as mesmas serem engarrafadas. Coisa de guri é verdade. Nostalgia pura. Talvez saudosismo. Talvez.

O centro não está muito diferente. Tanta coisa já nem existe mais. Lembro de sair a pé com meu pai para assistir grandes espetáculos de Circo, em estruturas montadas onde hoje é o Hipermercado Bourbon. O circo já não mais cativa os de agora. Uma pena! Arte pura e bonita. Nem o Teatro Teleco tem mais. Muitas e muitas vezes o velho Teleco estava montado num terreno na esquina das Ruas Santos e Demétrio Ribeiro, no Vila Nova. No mesmo local, em alguns meses, mais blocos de edifícios residenciais. É o preço da modernidade? Pode ser. Mas é alto este valor, muito alto.

A verdade é que ouso dizer que a Novo Hamburgo que conheci há quase duas décadas já não carrega mais o romantismo em seu ventre. As pessoas já não dizem que são de Novo Hamburgo com o mesmo orgulho de outrora. Já nem podemos mais usar a pecha de "Capital Nacional do Calçado". Talvez nos destaquemos pelas feiras do gênero, mas não mais pela indústria. Muito raramente se vê um velho Ford Galaxie rodando pelas ruas esburacadas dum asfalto tenebroso. Pouquíssimos nichos tradicionais se amparam em meia dúzia de ruas, de bairros que ainda relutam em se entregar à tal modernidade.

Pois penso que a modernidade é importante. O problema é que se renega o passado, a cultura e a história em torno duma modernidade abstrata e volátil. Imbecil, muitas vezes, também diria. Será mesmo que precisa ser assim?

"Apagaram tudo, pintaram tudo de cinza; A palavra no muro, ficou coberta de tinta. Apagaram tudo,  pintaram tudo de cinza; Só ficou no muro, tristeza e tinta fresca".  (GENTILEZA - Marisa Monte).

Pena Novo Hamburgo estar se acinzentando. Pena!

Boa semana a todos. 

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