sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Gauchão de apartamento?*

Um amigo, também cantador das coisas do nosso Rio Grande, de pura cepa crioula, voz abençoada pelo Patrão Velho, comentou estes dias numa rede social acerca dos “gaúchos de momento”, aqueles, por exemplo, que quase nunca estão envolvidos nas coisas dos nossos CTG’s e na lida gaudéria como um todo, mas que estão na Vacaria, como se “tauras de rodeio” fossem.

Ouso dizer que na Semana Farroupilha tem muito desses “queras” espalhados por aí. Mas o que dizer?

Certa feita, o grande Gildinho d’Os Monarcas, questionado sobre o então existente movimento do “Tchê Music”, disse que o “sol nasceu para todos”. Dito isto, possível responder que não podemos criar barreiras e especificidades àqueles que pretendem sorver da tradição dos nossos rodeios.

Agora, que isso pouco ajuda a nossa tradição, é fato! Não estou aqui para defender os CTG’s; aqui no Rio Grande, muitas entidades estão em ruínas devido a más administrações, voltadas para interesse privados que não os reais, de cultivo ao gauchismo. Logo, não será (somente) a falta destes gaúchos que agora lá estão Vacaria que fazem com que a nossa tradição patine um pouco. Mas se participassem ativamente das promoções o ano todo?

O acréscimo de público certamente faria com que conseguíssemos focar mais no nosso objetivo, qual seja, a cultura gaúcha. Para manter as portas abertas, alguns CTG’s da região metropolitana de Porto Alegre têm de se virar com eventos que, embora tradicionais, passam distante do gauchismo. Temos, por exemplo, “Noites Italianas” e “Noites Alemãs” com cardápios e músicas típicas de cada costume. Mas não é um Centro de Tradições GAÚCHAS?

Mas como criticar? Não seria melhor assim que fechar de vez?

A realidade, por mais dura que seja, carece de maior fundamentação. Tanto nós, os tradicionalistas, precisamos ser mais flexíveis à evolução social, quanto as pessoas, tem de saber que tradição não é moda e, portanto, exige-se respeito. 

Que deixamos todos os gaúchos e gaúchas de todas as querências adentrarem em nosso recôndito gaúcho, que saibamos e tenhamos paciência para lhes ensinar a importância da permanência deles em nosso meio. Que a tradição não tem dia e hora para começar e terminar; que há sim muita cousa gaúcha além do calendário de rodeios e da semana farroupilha.

Pois se depois de tudo isso, dessa introdução à prática gaudéria, o teatino não tomar preço pelo nosso gosto à tradição, não tenhamos dúvida: o tal “gauchão” é sim de apartamento!

E segue a Vacaria veia tapada de mutuca. E a nossa Rádio Campanha na boca do povaréu, cantarolando o sucesso da nossa música nativa e campeira.


Forte abraço.

* Publicado originalmente na coluna CHARLA DO CAMPEIRO, em 27/01/2016, no sítio da Rádio Campanha (www.radiocampanha.com). 

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