sábado, 2 de novembro de 2013

O velho baleiro


Qualquer dia desses irão dizer que não sei viver o presente e o futuro, pois só penso no passado. Seja nos carros, na arquitetura, nas cidades, enfim. Em verdade não é uma questão somente de nostalgia. Ora, só porque é moderno não quer dizer que é bom. Tem muita coisa antiga que é muito melhor que a nova e diversos fatores como resistência, por exemplo, diante da qualidade do material utilizado preteritamente e que não se repete nos dias de hoje.
Outras coisas tem todo um valor sentimental por trás. Neste caso, geralmente, ligados à nossa infância. Não raro me paro a pensar no tempo de criança e me brota uma saudade daquelas que as vezes chega a doer. Não que hoje não seja bom, mas a felicidade naquele tempo era diferente, mais pura e muito menos consumista e comercial. Sem contar na lembrança de pessoas que não estão mais presentes ou que a vida levou para outros caminhos, que já não se cruzam mais com os meus.
Pois hoje, um sábado de feriado de finados que não tem vento, o que é uma grande novidade, passando não tão rapidamente por uma rua de Hamburgo Velho, avistei dentro de um antiquário um velho baleiro, daqueles de vidro, com muitas tampas, e que girava 360º em cima do balcão de algum bolicho ou armazém.
Para começar, já quase não se vê mais bolichos ou armazéns abertos por aí. No interior, talvez. Foi-se o tempo em que íamos até a “Venda” para comprar algum seco ou molhado que tenha faltado para completar a “bóia” do almoço; hoje, a moda é ir nos “mercadinhos” ou em grandes redes sem hora para abrir ou fechar. Voltando ao baleiro, lembro-me de ir nas bodegas da Cazuza Ferreira atrás de balas e doces. Muitas vezes me contentava somente em girar aquele baleiro, ouvindo aquele barulhinho do eixo com falta de lubrificação. Fecho os olhos e escuto o barulhinho na minha mente... Impressionante!
Ou então, em alguma venda de bairro em São Chico, nas voltas que dava com o falecido Vô Neto, enquanto negociava a venda de alguns quilos de queijo serrano. Bahh tchê, que saudade do velho baleiro. É possível que eu esteja descontando minha saudade no baleiro quando, na verdade, o que parece é que os dias de hoje não me trazem felicidade. Creio parecer ser mais um contrassenso, visto que sou muito feliz com o que tenho hoje em dia. Logo, prefiro imaginar que é mesmo a nostalgia da saudade.
Saudade das coisas simples, belas e emocionantes. Que saudade do velho baleiro de minha infância. Que saudade!


Abraço e bom final de semana a todos.

Nenhum comentário: