sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

O último baile do Porca Véia

Muito mais que prestar homenagens pós morte, as pessoas devem enaltecer seus ídolos quando estes ainda estão vivos, até para que saibam do tamanho de sua importância para seus fãs. Amanhã, nas dependências dos pavilhões da Festa da Uva, em Caxias do Sul, um dos expoentes da nossa música regionalista se despede dos palcos. Falo de Élio da Rosa Xavier, o Porca Véia.

Embora eu não seja um velado fã do artista, reconheço que a importância que o mesmo tem para com a nossa cultura é incalculável. Não tenho dúvida que o Porca Véia foi, e continuará sendo, o legítimo herdeiro da música dos Irmãos Bertussi. Ele, como ninguém, soube perpetuar o som Bertussi através de mais de três décadas dedicadas à gaita e aos fandangos pelo Brasil afora.

Porca Véia fez parte de um seleto grupo de músicos com um estilo característico. Tal como todos conhecem o “tranco dos Monarcas” conhecem o “tranco do Porca Véia”, daqueles de “dançar de lado”, como bem definiu o próprio. Por falar nisso, o Porca nunca cansou de dizer o “quanto é bela a simplicidade da música gaúcha”. Pois foi com um toque simples, com letras e melodias que sempre cantaram a história do nosso povo, que ganhou o coração das pessoas e sempre, repiso, sempre lotou CTG’s, clubes e salões de igreja por onde passou. A saudosa Várzea do Cedro que o diga! Quantos bailes do Porca Véia eu lá dancei, ou ao menos tentei, em razão do contingente de pessoas que se aglomeravam pelo velho e aconchegante salão.

Se despede cantando! A bela composição de Honeyde Bertussi cai como uma luva a circunstância: “eu vou me despedir cantando, como canta o sabiá; eu vou me despedir cantando, mais adiante eu vou chorar”. Se despede dos fandangos, o Porca Véia, e vai aproveitar para viver a vida. Faz bem. Muito bem. Sairá de cena (dos bailes), pode-se afirmar, no auge de sua carreira e será lembrado pela história da música autêntica do Rio Grande do Sul.

Quem sabe a saudade um dia aperte e ele volte. Se não voltar, por certo que terá a consciência tranquila, de que muito contribuiu para a gaita gaúcha. Será lembrado a cada fandango animado por este Brasil afora, quando a valsa mais tocada por estes rincões ganhar o choro de uma cordeona apaixonada. Embora seja composição do mestre Telmo de Lima Freitas, ‘Lembranças’ é sinônimo de Porca Véia.

Os apreciadores de um bom fandango, tal como eu, sentiremos a falta daqueles bailes de “dançar de lado”. Não serei mesquinho a ponto de achar que a pessoa de carne e osso é eterna. Sua música, contudo, há de ser. Muitos haverão de saber quem foi Porca Véia e os serviços que prestara ao nosso Rio Grande. Surgirá então algum vivente com um grito de “uia” e o fandango estará formado, “com a emoção de sempre e a cordeona preparada”.

Obrigado Porca Véia!


Abraço e bom final de semana a todos.


PS.: Este deve ser o último texto que vos escrevo neste quase findo ano de 2013. Caberá ao meu amigo Rodrigo de Bem Nunes traçar algumas palavras de esperança e motivação para o novo ano que surge. Dessa forma, desejo desde já um feliz 2014 a todos e agradeço pela parceria de sempre. Nos vemos no próximo ano com muitas e produtivas novidades!

Nenhum comentário: